Carta de um Causídico a José de Drummond.

Prezado José.

Lembra, José, quando bloquearam seus bens dois dias antes do Natal e o jovem aqui, como gostava de dizer, fora até lá com um agravo de instrumento e os desbloquearam?

E nem era causídico dos considerados caros, como gostava, desses especialistas e ratos de causas perdidas, mas que dera jeito até no desbloqueio de seu provento de aposentadoria, cujos honorários fora um sorriso amarelo?

Lembra, José, quando compraste um lote irregular, sem ler contrato, e teve processo de ordem pública e o jovem aqui fora lá com Embargos debaixo do braço convencer o nobre Magistrado de que tu de nada sabias?

Lembra, José, quando quiserem matar sua filha com facões dentro do sanatório, devido à mesma ofender gravemente uma pobre-diaba, e o jovem aqui fora quem apaziguou a pendenga, arriscando a própria vida, e nada de mal acontecera?

Lembra, José, quando o Tião Gordo, que trabalhava no seu rancho, o levou na Justiça do trabalho e o jovem aqui, de peito e coração abertos, ganhou causa, recurso e sucumbência?

Lembra, José, quando assinaste sem ler o termo que te comprometia na prefeitura e o jovem aqui, em primeiro grau, conseguiu ganho de causa a você, que o pagou com o velho e bom sorriso amarelo?

E lembra também, José, que em segundo grau, em sustentação oral, o tio do jovem aqui fez todos os esforços para absolvê-lo, com viagem à Capital, cansado e na madrugada? E o que receberam? Desta feita, nem o sorriso amarelo!

Lembra dos conselhos jurídicos, das músicas, bons diálogos e sorrisos?

Não sei se ainda se lembra, José, mas quando sua digna senhora passou desta para a melhor, fora o jovem aqui quem dera quase todos os amparos, na medida do possível, os psicológicos, emocionais, mesmo os mínimos, como um copo d'água servido na sala do velório?

Pois é, José...

A festa acabou...

O povo sumiu...

Apagaram os holofotes...

Até Drummond nos deixou...

E agora, José?

Sei, e você também sabe, que a ingratidão é um prato que se come frio...

Mas não esperava isso de você, José!

Confesso que não!

Esperava ao menos mais um daqueles sorrisos amarelos, mas não o maldizer nas ruas, nos departamentos, e que até o vovô Migueli é um chato, como dito à neta, em tom de brincadeiras que não se brinca com crianças!

Que coisa feia, José!

A vida é isso aí que estamos vendo!

Minha metralhadora, ao contrário da cantada por Cazuza, dispara amor.

Paz e bem!

Atenciosamente.

Savok

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 12/02/2016
Reeditado em 12/02/2016
Código do texto: T5541017
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