A MORADA MISTERIOSA

A MORADA MISTERIOSA

Desde pequena que aquele lugar me intrigava, era uma extensa propriedade situada em uma esquina próxima a minha casa. Confesso que sentia medo de passar por lá. Contavam que há muito tempo um homem morava lá sozinho, um verdadeiro eremita, e a sua fama não era das melhores, tanto é que nenhum menino se aventurava escalar aquela fortaleza para colher seus frutos, ou pegar alguma arraia que voara. Apesar do desejo de conhecê-lo, e saber como era aquele quintal, tal nunca aconteceu, e assim a minha curiosidade sobre aquele lugar cada vez mais se aguçava.

Por incrível que pareça, envolta em tantos mistérios, a propriedade permaneceu intacta por mais de meio século, com muro alto, e um imenso portão de madeira que permanecia sempre hermeticamente fechado, o que dava pra ver, era apenas os galhos das árvores espalhadas em toda a sua extensão, sabia ainda que seu nome era bem esquisito, Nequim, de modo que dando asas à imaginação pensava cá com meus botões, deve ser um bicho papão, ou algum daqueles lobisomens que corriam nas ruas pelas madrugadas de sexta feira, conforme os boatos da época.

Contudo, com o passar dos tempos, fui me esquecendo de desvendar esse mistério, porém certo dia tomei conhecimento de seu falecimento, mas o mistério continuava, pois ninguém sabe dizer quando nem onde foi o seu sepultamento.

Todavia apareceram pessoas alegando ser parentes e herdeiros para tomarem posse do seu imenso patrimônio. E assim aquela propriedade foi devastada, agora se vê o portão aberto e um terreno limpo, tendo sido abatidas todas as árvores existentes no local.

Daí, com grande pesar, fico a meditar, o que foi feito daquela reserva ecológica tão preciosamente preservada em meio a um bairro que nesse longo tempo ganhou fama de área nobre? Para onde foram as aves, e demais espécies que lá residiam? Asas bateram em busca de novos horizontes, o mavioso cântico rapidamente cessou, e a morte prematura ali então se instalou.

Aonde o progresso chega, a natureza perece, os sentimentos se arrefecem dando lugar ao luxo que a ganância abastece.

MIRA MAIA 16/01/2016