DESABAFO DE UM HUMANO

Eu nasci no mundo

mãe e pai não me quiseram,

então repousei nos braços de quem me acolheu.

Lágrimas soltas rolaram,

nas vestes de seda

e nos trapos da vida.

Fui condenada a não saber minha origem,

e isso delimitou meu destino.

Se alguém me fosse fiel nos ramos verdes da vida

e olhasse no fundo dos meus olhos,

enxergaria meu coração

e me ganharia para sempre.

Mas se a realidade fosse contrária,

pouco valorizaria os detalhes do cotidiano.

Aprendi a omitir, pois muito me foi omitido,

expresso fragmentos sem a visão filosófica do inteiro,

e quando persisto em constituir o todo,

a escassez de partes que me faltou me delimita, me interrompe.

Por isso decidi abrir o baú de minha existência,

tentando unir as lacunas do tempo,

reconstituindo os requícios do passado.

Minha geradora disse-me adeus no tempo prematuro,

mas a vida permanece e ela é meu presente!

Ergo a cabeça e sigo em frente,

com braços soltos e pés marcados,

"DESEJANDO" viver e transformar a vida que recebi.

Hoje não mais me encaro pelos pés, mas olho meu reflexo

e na pupila da realidade me aceito como todo,

libertei-me de mim, estou feliz, consegui desabafar......