Prosa da Madrugada

A madrugada é matreira, ela convida à reflexão, contudo é capaz de embaralhar os sentidos.

No limiar entre a vigília e o adormecer já não sabemos distinguir a realidade do sonho e mergulhamos num espaço sem gravidade, um mundo paralelo onde tudo é possível, onde balbuciamos palavras muitas vezes sem nexo aparente, só aparentemente;

Doce é a madrugada, podemos reviver momentos que o dia não nos faculta, descongelar segundos petrificados na memória sem limites nem censura;

É mais fácil resgatar do que turvar sentimentos ao longo de uma madrugada...

A madrugada é um salvo conduto, uma licença poética da dura vida vivida, então nela tudo passa a ser permitido;

A madrugada é um liame com o Self;

As dores e os prazeres também se aguçam na madrugada, ela ora nubla, ora revela; aí está o seu mistério.

A madrugada é democrática, ela fecha os olhos das pessoas e abre suas mentes e corações. De resto é só o porvir...