Devaneios de um Insone.

Insônia às quatro e dezoito...

Coisas que martelam na cabeça como se bigorna...

Os refugiados mortos asfixiados em baús de caminhões...

Os afogados e crianças encontradas mortas como peixes nas areias das praias...

Pensamentos de pesar pelas dores dos desamparados...

As lembranças de um mundo absurdo e nada poder fazer a não ser mudarmos a nós mesmos...

Do galo Mike, dezoito meses sobrevivendo sem cabeça e se tornando atração de circo no interior do Alabama...

Dos derretidos por combustível napalm no Vietnã do Norte em mil novecentos e setenta e dois, ou um...

Dos tubarões misteriosos encontrados e fotografados por cientistas dentro de vulcões...

Ouro em Plutão...

O Campeonato Brasileiro, o desemprego, o desespero, impostos e impostores...

Os corruptos de sempre e a dor de cabeça da presidenta que se entope de ansiolíticos para dormir e evita ver os noticiários a fim de não se deprimir...

O novo Código de Processos Civil...

A filha de três anos e meio que liga pedindo uma Barbie Super Princesa...

A vontade de fumar um cigarro e não poder...

As recordações dos tempos de criança e os gols mágicos feitos na quadra da Delegacia...

Da ex mulher que traía via WhatsApp após adquirir um aparelho celular Apple...

Da vontade de socar a parede até que os dedos caiam...

Da instabilidade à beira dos quarenta...

Na vida dos espíritos e o medo do nada...

Dos meteoros que ameaçam cair todos os anos advindos dos noticiários televisivos...

Do mimimi e clichês baratos de redes antissociais...

Da gata rajada dos tempos de infância, que se chamava Mimi, e que só quando prestes a desencarnar, já idosa, porém envenenada pela carne podre lançada pelo vizinho, agonizando em cima de nossa mesa de jantar, mesa de estudo e de tudo, é que descobrimos que na verdade não se tratava de gata, mas de gato... E todos choramos desesperadamente...

Na escuridão a queimação estomacal, o frio e o medo de onze de setembro...

Mas setembro não existe.

Nada disso existe!

É a metafísica da insônia em forma de um sonho...

Daqui a pouco os ferozes condutores de automotores farão o sol nascer de novo do outro lado do firmamento e ninguém mais se lembrará de sonhos ou pesadelos, já que as contas, as guerras, as fomes e as coisas da vida transformam os homens em máquinas ou pedras...

É melhor tentar dormir, meu filho!

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 13/09/2015
Reeditado em 13/09/2015
Código do texto: T5380363
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