Margot

Gritaram-me vadia!

Tinha apenas dez anos,

Mal tinha peitos

Ou bunda para ostentar.

De repente uns meninos na rua gritaram:

Vadia!

Eu não entendi.

Por que o fato da minha mãe ser uma prostituta causa raiva nas pessoas?

E me torna vadia também?

Vadia! Vadia! Vadia!

Ouvi isso minha infância toda.

Eu não escolhi ser vadia

Tampouco minha mãe escolheu isso porque sonhara

Mas quando fez, gostou

E porque ela não deveria gostar?

A sua mãe é uma vadia!

Disse-me uma garota na faculdade

Eu disse: Minha mãe é uma vadia!

É trabalhadora.

O leite que derramam no corpo dela se converte em leite em minha mesa.

Por que isso te incomoda tanto?

Eu sentia raiva e tristeza

Tinha vergonha e orgulho

Não sabia ao certo oque sentir

Minha mãe e eu somos vadias

O que fazer com isso?

O que fazer com o uso dessa palavra tão proferida violentamente contra a dignidade da minha mãe e contra mim?

Decidi ser vadia

Quis sentir o que elas sentem.

E senti.

Prazer e dor

Excitação e desprazer

Estímulo e humilhação

Como em qualquer empresa que trabalhei antes.

Não vi nenhuma diferença.

Agora todos me gritam:

Vadia!

E eu digo:

Com prazer dou!

E com prazer recebo meu dinheiro

E também o meu orgulho de ser o que quero ser.

Aonde eu quiser,

Aonde estiver serei o que quiser ser

Sem sua aprovação ou negação,

Serei vadia, puta, princesa e esposa com filhos

Serei deus e deusa, feiticeira e curadora

Serei o que me der na cabeça

E na minha buceta!

Porque o corpo sempre foi meu

E o choro também.

Por isso dou com orgulho e prazer

Por que você não vem ser feliz também?

Aonde eu estou não há gaiolas nem grades

Não há o que me prende nem sufoque

Asfixia-me.

Vem dar o cu comigo?

É bom e eu gosto,

Por que não liberta a sua vontade de dar também?

E me deixe livre para ser o que gosto,

O que sou?

Sou vadia com muito prazer,

Me chamo Margot.

Adaptação de 'Gritaram-me Negra' de Victoria Santa Cruz