O 'BEM- TE- VI" E O SABIÁ

Ali, naquele tomo remanescente de floresta, eles eram dois versos que gritavam em extinção.

Mas ainda eram verbos que ressoavam fortes.

Todas as manhãs, cantavam que viam e sabiam de tudo, a despeito das constantes mudanças de cenário que lentamente os despediam da legitimidade da sua própria casa.

Faziam poesia concreta, algo repetitiva, já sem eco, entrecortada por ruídos ácidos das betoneiras vindas de todas as partes.

A terra árida ali clamava e esperava pelo milagre chovido do céu...

O cenário sagrado já não tinha dono, absolutamente mais nada ali tinha dono, algo como uma floresta de ninguém, abandonada à própria sorte, como qualquer terra de ninguém.

Vez ou outra, em meio à falta total de comando e cuidado, um incêndio entrava na mata abandonada, as fumaças se levantavam zombeteiras da sorte prenunciada e, de galho em galho, assustados, entonavam roucamente pela laringe intoxicada a sua resignação de ver, saber e clamar sem ser ouvido.

Pareciam versos perdidos à negritude do tempo, mas sei que queriam viver apenas o direito legítimo de se estar vivo...como qualquer ser.

Todavia, só porque eram verbo e nasceram para assim o ser, cumpriam sua missão estrategista: versejavam versos adverbiais quiçá inertes, onde um gritava que via e o outro lhe respondia, algo já cansado e sem esperanças, a lhe cantar que de tudo aquilo já sabia.

Aos poucos, em meio ao clamor à ciência de todos ao derredor, a floresta combalida já via e já sabia de tudo.

Parecia tarde demais...

Entenderam: Há cenários tão dilapidados que é impossível não se ver e não se saber, ainda que tudo permaneça imóvel à negligente ação dos abandonos.

Não é possível enganar, para todo o sempre, os olhos e as vozes de quem nasceu para ver e cantar, e tampouco ceifar as asas dos que têm por missão legítima sobrevoar todos os descasos da sobrevivência.

O Bem -te vi e o Sabiá ali ensinaram que entre ver, saber e morrer há um tempo curto ao limite de se resfolegar a vida, sob a pena cruel de se perder a voz e os cantos nos ocasos do versos sem volta.

Ensinaram que é preciso reinventar todas as poesias dilaceradas pelas pseudo vozes dos falsos pássaros...

Eles viram, sabiam e gritaram ao horizonte perdido que ali já morriam seres da floresta sem sequer terem existido.

Mas eles eram pássaros e pássaros só foram feitos para cantar e voar além de todos os sóis que se vão para os mistérios do inatingível.

Então eles partiram.

E logo ali, bem na próxima alvorada que surgia, como milagres de todas as fênix, ressurgiram do sofrido rescaldo de se ver, saber e sobreviver morto.

E só porque eram versos, como versos perenes de poesia, mesmo sendo tarde, ninguém mais os poderia calar para sempre.

Em canto uno, então, viram e recantaram o tudo sob o próximo sol que lhes surgia...

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Nota da autora: Dedico essa minha prosa ao TODO que tudo já sabe e tudo já vê.