Melancolia

Ele está sempre ali,

Num lugar obscurecido

Pelos desejos não saciados

Pelas obrigações irracionais

Pela etiqueta estúpida

Pelos não’s sempre ouvidos.

És como um cão escondido

Num canil apertado e esquecido

Que sai do seu silêncio adormecido

E late ferozmente

Geme de dor infinita e latente

A angústia de existir todos os dias.

És um leão raivoso numa selva de pedras

És um sujeito selvagem

Que não se engana pela falsa civilidade.

És um pássaro de espírito livre

Preso em seu corpo.

Cortaram -lhe as asas

Só lhe deixaram os seus sonhos mortos.

São muitos animais

Habitando o mesmo espaço

É dor da condição

É dor da consciência

É um choro pela perda da inocência

É a revolta da alegria esquecida

É o motim silencioso das comunidades.

É a chuva que cai demasiadamente

E sem demora.

Sem rumo

Sem som

Sem um único grito.

És um gemido intrépido e entorpecido

De desilusão e castigo

É o frio na espinha dorsal durante o inverno

É o grito dos excluídos da existência

É o zoológico perdido dentro do meu espírito

Invadindo o âmago

Me abandonando de mim mesmo.

É causa perdida

É dor eterna e sem cura

Melancolia.