Azul
E então eu te conheci. Foi como ver o mar pela primeira vez, idêntico — a sensação da brisa soprando em direção ao meu rosto e o cheiro de água salgada, a textura da areia, bem fina, sob os pés descalços, a sutileza do céu e a imensidão das águas que se encontravam numa cor desconhecida e esplendorosa — exatamente assim.
Mergulhei neste mar e deixei-me levar. Estava bêbada, extasiada, queria mais e mais da sua água salgada e suas ondas ora calmas, ora violentas.
Foi quando você sumiu da minha vida sem explicações.
Eu não voltei mais a mim, como se não tivesse encontrado forças pra sair – foi sufocante, asfixiante. E a única coisa que conseguiu me salvar foi a maré, que me trouxe de volta à praia. De volta ao zero.
Prometi que iria te esquecer. Você estava tão distante que não tinha razão para continuar pensando que seria meu de alguma forma. O mar é pra todos, o mar é de todos.
Alguns verões se foram e eu fiquei relativamente bem. Você estava guardado em uma pequena parte de mim e eu lutava para escondê-la ao máximo. Lutava para te apagar, esquecer os momentos, as conversas. Mas a cada detalhe, você fazia presença. A cada nuance azul da minha vida.
O seu azul era meu guia.
Até que, numa noite fria, você apareceu. Os tons azuis voltaram e aquela pequena parte de você que eu escondia explodiu e tomou conta de todo o meu ser. O vento veio, o fascínio do mar me enfeitiçou e fez com que eu mergulhasse fundo naquela imensidão azul. E veio a tempestade dos sentimentos, a repulsa, o enjoo, o ódio. Bati nas pedras das palavras que me nocautearam. Voltou a asfixia das suas intenções. E então. Eu me desliguei de tudo.
Perdi-me em seu mar. Perdi-me em você. E não tem mais volta. Está tudo azul.