Eclipse Total do Coração

Você chegou,

Como quem logo poderia partir

Mas você ficou

E eu reaprendi a sorrir.

Uma flor aflorou-se em meu jardim

Antes habitado somente por espinhos

Em cravos escuros cheio de mágoas

Num eterno sofrer sem fim.

Ela cresceu sem sangrar

E livre,

Agora enxerga a beleza da vida

Em todas as noites a luar.

Quando eu me senti sozinho

Você apareceu

E me deu a mão

Eu a apertei com toda dor que tinha

E você clareou o meu caminho.

Ao me reerguer do chão

Você mostrou que era possível

Aquilo que eu acreditava ser somente

Mais uma ilusão.

Eu estava na estrada

Perdido em minhas decepções

E através do seu sorriso

Eu vi a face da vida reaparecer

Você trouxe vida à todas as minhas imaginações.

Em teu colo,

Agora eu posso contar

Quantas estrelas estão a brilhar

Em nossos corpos

Dando-nos vida sem cessar.

E ao me cansar

Posso agora adormecer em seu afago

E eternamente sonhar.

Duas almas

Dois espíritos vagando

Em busca de luz

Da paz perdida na infância

Se encontram no caos

E afastam suas más lembranças.

Se encostam

E mesclam seus vazios

Em vida e escuridão

Contemplando a luz

Que surgiu entre a solidão

De cada um.

Eu e você,

Um sonho possível de viver

Um sentido a se exercer

Em destinos difíceis de se prever.

E eu conto os segundos para te ver

Com o seu olhar generoso

E sua luz florescente

A me iluminar

Sempre.

E juntos, partimos

A desbravar a beleza do mundo

Num paraíso antes adormecido

Pelos amores não-correspondidos.

Minhas angústias se calam

Encontram um porto

E atracado em seu corpo

Eu me sinto vivo

Já não mais um vivo-morto.

Meus pensamentos se aquietam

Minhas dores desaguam em silêncio

Em teu caloroso abraçar.

E numa transmutação singular

Você me cura de tudo que dói

E que ficou a transbordar

Como num ritual divino

Minhas feridas cessam

Sem você sequer notar.

As sombras da infância desaparecem

Se dissipam no ar

Os fantasmas não conseguem se aproveitar

Daquilo que agora está caído

E não vai mais sangrar.

Na penumbra que se anuncia

Eu vejo o seu rosto me inspirar

Sonhos antes inimagináveis

Eu me sinto real

Eu consigo respirar.

Você é como a beleza do crepúsculo

Que cai para dar vida as estrelas

E num cenário real e natural

Você é a melhor melodia

Das canções vindas do mar.

Através dos teus passos

Eu posso livremente caminhar

E de mãos firmemente dadas

Aquecemos os nossos espíritos

Antes de qualquer trovejar.

Ambos eram rejeitados pela massa

Duas almas procurando colo

Num mundo onde reina a indiferença

Que destrói tudo que vê pela frente

Com sua frieza.

Mas agora,

Eles encontraram um lugar para sossegar

E o corpo de cada um

É um templo sagrado a se cuidar.

Pois há de vir tempestades nebulosas

E eles se abraçarão como fazem

E jamais se perderão entre fúrias e medos

E a história jamais se findará.

Ao deleitar-me em teu corpo

E saborear sua pele

Eu não resisto e me rendo

E o meu corpo é o seu brinquedo

Onde você poderá brincar sem medo

Toda vez que Eros aquecer

Os nossos mais selvagens desejos.

Abraçado em tuas chamas

Eu me elevo

E voo em minha existência

Antes sem sopro real de vida

Sem fôlego verdadeiro

Num espírito mantido em cativeiro.

E ao queimar-me de alegria

Eu transbordo em prazer

E o barulho da cidade

Dá espaço a calmaria.

E eu já não sei o que é sonho

O que é real ou fantasia

Só sei que não quero acordar

E neste sonho eu quero ficar

E esquecer de todas as mortes que há

Ao abrirmos os olhos de manhã

Sem enxergar.

E essa vida que você me deu

Eu não quero devolver

Pois ela é força que eu preciso

Para o meu sobreviver.

És minha única luz entre as trevas

Entre todos os vivos-mortos

És minha vida incandescente

O meu único refúgio

O meu único afago

A minha mais bela fuga,

A minha mais sagrada saída.

Jamais me deixe viver esta vida

Que cheira a morte constante

Sufocado em meu pranto

Sozinho em meu canto.

Jamais largue minha mão

Com todos os esses medos

Sempre à espreita

Sempre me esperando.

Eu não quero acordar

E saber que tudo foi um grande engano

E viver novamente com todas as sombras

Que me atormentam entre tantas e tantos.

Diga que sempre estará

Ao meu lado quando eu sempre precisar

E que este encanto

Jamais se desencante

Pois eu já não sei o que é caminhar

Sem você ao meu lado

Eu já não sei voltar ao começo

Sem você à me esperar.

Porque eu estou feliz demais

Para suportar outro abandono

Outra rejeição sem fundo

E nadar contra as minhas sombras.

As pessoas estão sempre a me devorar

Através das minhas fraquezas

Querem me calar

Me fazer refém de minhas perdas e tristezas.

Não deixe as marcas gritarem

Em meus ouvidos frágeis de tanto escutar

A perversidade do mundo

A civilização forjada

Para sempre nos enganar.

Não me deixe cair novamente em desespero

Neste mar de destruições que há em meu peito

Onde nosso barco vai a mercê

Do funcionalismo sem freio.

Sou tua presa por desejo

E em seus braços eu quero acordar

Todos os dias

Nas madrugadas frias em pesadelos.

Pois eu encontrei amor

Carinho e cuidado

E já não sei viver sem o seu toque

Sem tudo que você é

Sem tudo que você fez

Sem tudo que você me fez acreditar

Que somos e que podemos ser.

Duas crianças brincando

Encontrando luz onde pisam

E festejando a união da dor e da vida

Num casamento perfeito

Entre a chama e a razão

Entre o medo e o desejo

Entre a luz e a escuridão

Num eclipse total do coração.