Salvação Imaginária
Eu sempre desejo saber a verdade
O que é real e o que é ilusão
O que está escondido
E o que sempre me esconderam.
Então acabo por saber mais do que sou
Mais do que quis
Mais do que posso aguentar
Mais do que posso carregar
Em meu coração cheio de pedras
Pesadas demais para o corpo suportar.
Desde cedo tenho assistido
A minha morte tantas vezes
Bem viva e real em minha frente
Na força dos braços de um homem
Que eu nunca pude deter
Nas condições de uma criança inocente
A aprender a fugir de sua realidade
Para sobreviver.
Eu nunca pude fazer nada,
Eu não sabia me defender
Então eu sempre faço mais do que posso,
Mais do que os meus limites permitem
Para evitar muito sofrer.
Eu aprendi a enxergar a dor do depois
A angústia de viver o dia
O terror sempre presente
Eu aprendi a conviver com a loucura
Mas muitas vezes
Cansado de esperar uma luz
Um milagre lá de cima,
Eu me entreguei.
No inferno em que só a mente pode te levar
Eu então enlouqueci também
Meu espírito estava entregue às sombras
E eu me perdi no abismo de dores que só eu senti.
Sempre vi a vida passar ligeira
Me abandonar tantas vezes
E me alimentando de imaginações,
Vivendo em delírios e fantasias
Eu resisti,
Mas sangrei por onde passei.
A imaginação era tudo que eu tinha,
Minha base para suportar tanta tortura,
Então minha inocência permanecia segura
Os sonhos ainda suspiravam
Na alma da criança sonhadora incurável.
Mas nada do que foi feito se apagará
Todas as cenas, cenários
Montados para me assustar
Estão tão vivos como minhas feridas
São eternos enquanto eu respirar.
As palavras tentam cessar
As vozes desses fantasmas
Mas a verdade é que a cura não há
O menino preso a um inferno
É levado de mim às vezes
Sem avisar.
Instinto de sobrevivência
A mente tentou me salvar
Um mundo dentro de mim
Então surgiu como muralha
Contra isto, contra todos
A se preservar.
Um cantinho da minha existência
Há de se cuidar
Toda minha fortaleza se encontra lá
Onde as nuvens escuras ao cair
Durante as noites frias
Perante a minha face
Trêmula e assustada,
Sempre encontrará sua força ofuscada
Por monstros diurnos sempre a me atacar.
No cair da lua cheia,
Na escuridão dos meus pensamentos
Espécie de herança dos meus primeros passos
À me atormentar,
Eu anseio pelo outro lado
Sem demora,
Sem hesitar.
No silêncio esplêndido das estrelas
Que brilham em companhia dos meus desejos
Eu sonho junto delas em um dia
Ver este mundo mudar.
E no fechar dos olhos em minhas noites a só,
Onde a luz sombria da realidade
Já não pode mais me tocar
Nem me machucar,
Num devaneio glorioso e perdido,
Eu volto para o meu cantinho.
Onde minha alma somente ali pode descansar
E encontrar a sua sagrada segurança
E um pouco à espreita,
Uma faísca de esperança.
E num sono profundo
Eu novamente estou em paz,
Livre das sombras do mundo,
Perdido em meus medos noturnos
Sangrando sozinho,
Desde pequeno,
Em meu lar.