Quando era felicidade

Tu ias e eu ia

Com olhos de enxergar a vida, seguíamos as borboletas de asas tênues, de voos não planejados, escrevendo a poesia do vento.

Abraçado nos teus braços fortes, cheios de afetos, contemplava as cachoeiras do Rio Doce que cantarolava a canção ancestral das águas.

Das montanhas nascem os sinos e os cordões de chuva que vinham irrigar o milharal, e o vale, onde os lírios brancos se ofereciam para enfeitar a igreja e o altar, e a dimensão onde morava a santidade.

Tu ias e eu ia

Rezar um terço comprido , uma ladainha severa, para proteger os meus dias e os teus.

Quando era felicidade, descias e descíamos, pelas trilhas elegantes da Igrejinha de Santaninha.

Na procissão, guardavas o manto da fé, no olhar azul que azulava o amanhecer.

Era um tempo de madrugadas azuis, quando amanhecia.

Irmã, de onde vem esta saudade tão profana e bela, das tuas mãos que seguravam as minhas?

Eu vinha e tu vinhas

Com velas entre os dedos, pronunciando palavras cheias de claridade,

Ao olhar gracioso de Nossa Senhora !