Crianças

Os pássaros cantam

As crianças dançam

E cantam em coro

Suas cirandas.

Alegres,

Vivas

Mas não contagiantes.

Pobres seres

Salvos pela inocência

O mundo que pesará em suas consciências

Os mudarão para sempre

Ou os castigará atrozmente.

Seus corpos ainda estão leves

A ingenuidade não sente o peso

Da tortura diária da máquina

Os seus pequenos mundos estão salvos

Em cochichos de ouvidos

Guardados em segredo.

As crinças batem palmas

Mas eu não as ouço

Preso em minha maldita memória

Eu permanço na paisagem

Do cinzento, minha tristeza fiel

Que advém do branco e do preto

Desejo de paz numa escuridão

Permanente e cruel.

As crianças nem sabem

Mas a beleza da vida

Está em suas mãos.

Eles querem ser adultos

Mas ainda não conhecem o mal

Sonham em mudar o mundo

Mas ainda não sentiram o seu peso

Afundando até o seu próprio inferno

Soterrando e asfixiando

Todos os seus pensamentos.

Entorpecendo sua razão

Através da dor

Que se adquire no conhecimento

Ou da loucura coletiva

Instaurada pelo sagrado alheamento.

A frustração é permanente

A decepção é constante

A desilusão só cresce

E os sonhos se vão

Para sempre.

A criança vai perdendo a voz

A imaginação

E descontente

Entrega-se na sua escuridão.

Onde as sombras prevalecem

Os sonhos adormecem

E num chão frio

Coberto de neve

A criança cai

Mas não levanta mais.

A dor é mais fria e intensa

Que o gelo na sua alma

E de melancolia, enlouquece.

Depressão, pânico, bipolaridade

Tudo é inadequação

Um vida em constante torpor.

Uma existência alienada da razão

Consiste em acumular doenças

Que esmagam o peito

E perfuram o coração.

Mas gostamos de ser mais do mesmos

A Terra girando

Não se pode parar de produzir

Os mesmos erros.

Eu vejo o passado com saudade

O futuro com um mal pressentimento

E o presente,

Ah o presente eu quero devolver

Antes que acabe o prazo de devolução.