O Teatro dos Vampiros

Sinto a bruma do mar me abraçar

Oh noite angustiante!

O que vens me mostrar?

Que o amor é um sonho adormecido?

Ou que a vida é uma eterna ilusão

A nos assombrar?

Sinto as gotas de orvalho

Suavemente me tocar a pele

Casando-se com as gotas de suor do meu espírito

Já cansado de existir e enfermo

Sem nada restando para sonhar.

Então eu rezo sem parar

Congelado em meus medos

Atormentado por fantasmas do passado

Que insistem em me roubar a sanidade

Me deixando com os piores sentimentos.

Sombra ligeira é a vida

A alegria sempre ausente

É de mim fugitiva

Eu ouço o gorjear dos pássaros

E por um momento eu sinto

Ela pode estar em mim

Mesma que às vezes desapareça.

Sinto o vento trazendo no ar

Notícias de uma tempestade iminente

Onde a escuridão se faz presente

E em minha alma se faz morada

Num entorpecimento sem cessar.

Um delírio invade a mente

E transforma tudo em incêndio

Eu vejo os demônios queimando

Diante de seus amáveis espelhos

Eles estão virando pó

E eu olho sem temer

Sem chorar.

Escuridão que fere a mente

Que perturba sem parar.

Será que essa noite eu irei sonhar?

Este vazio que me corta em dois

Vai de mim se ausentar?

Esta sensação de morte me leva de mim

Me jogando a outro espaço

De um outro tempo

Onde eu talvez encontre a verdadeira vida

E possa sonhar em demasia.

A vida que há aqui não preenche

Mas esvazia tudo de bom que você sente

Tudo se evapora

E tudo cai em forma de chuva descontente.

A morte está sempre presente

Nos rodeando e cercando nossas mentes

Esperando um passo errado

Uma ação inconseqüente

Para nos arrastar numa avalanche

Cheios de corpos iguais aos meus

Pobres, negros e inocentes.

Oh noite real e delirante!

Eu não quis quebrar a minha inocência

Me leve de volta à infância

E me faça de novo contente!

O tempo é a chama ardente da desesperança

E os nossos corpos se vão com as enchentes

O sol nos queima e nos deixa doentes

Desgraças acontecem e nos chocam diariamente

Mas ninguém quer evitar

Todos estão fingindo que são surdos

Cegos e mudos.

Todos estão doentes

Interpretando sua inocência descaradamente

Outros fazem discursos de esperança

A o povo que carece de direito

De vida com existência

Carece de ser tratado como gente.

E a noite nada mais me surpreende

Mas a dor é atroz

E me causa náusea e nojo dessa gente

Que vive para comer o outro

Devorando nossas forças

Controlando nossas mentes.

E assim caminham as ovelhas

Num espírito coletivo de rebanho

Devotas de um paraíso sem precedentes

Anunciando a chegada de um messias

Que só existe para mandá-los ao batente.

É, não tá fácil minha gente

Ser autor e ser poeta

Num mundo onde nada é o que parece

E o que aparece de novo não surpreende.

O mais do mesmo não convence

Mas tem seus reféns diariamente

A demanda é maior que a oferta

E todos querem respostas imediatamente.

E nessa busca por prazer rápido

Numa velocidade um clique

Todos tomam a sua droga de manhã

E à noite

Para fingirem que são eternamente contentes.

É o teatro dos vampiros

Tomando conta destes fantoches

Que obedecem religiosamente

Seus senhores e seus mestres

Como se nada disso já existisse antes

Acreditando que são diferentes.

Achando que são novidades

Agem igual a todos

E nesse redemoinho de auto-enganação

Seguem suas vidas se protegendo de si mesmos

Para não conheceram a verdade que os permeiam na mente

E que se ouvida por um instante em um ato de coragem

Possam resgatá-los da grande jaula que vivem

E possam voar livremente.

Reaprendendo a viver todos os dias

Como um eterno aprendizado

De um presente cheio de mistérios

E de um amanhã cheia de descobertas e conhecimento.