A voz dos pertences

Sinto-me tão sozinha...

Milhões de coisas por fazer

pelo quarto, pela casa e pela vida.

E milhões de vontades me escapam;

Quero curtir a solidão do meu jeito;

Isolada num canto inútil da cidade.

Há quem acredite que isso me fará grande mal.

Sem qualquer tipo de manifestação, calada permaneço,

pois o meu silêncio confunde suas mentes cansadas.

Das coisas que são capazes de compreender,

não se pode acrescentar nada tão complexo.

Pois bem, eu prefiro assim...

Quero receber todo o impacto da saudade

com o peito aberto.

É uma ocasião onde não se difere o bom do ruim.

A dor da sua falta é terrível,

mas o que posso fazer se o meu coração

Quer por perto tudo aquilo que atrai a sua lembrança?

Suas marcas, seu cheiro, sua voz,

as leves sensações do gosto, do sabor do amor...

Nada disso o satisfaz completamente,

por mais que eu passe horas revivendo esse filme.

Caminho a procura do rumo das estrelas;

paro por um instante e respiro o ar cândido

quem vem do horizonte junto à tempestade.

Na volta para casa encontro-me num equilíbrio

entre luzes, paredes e delírios.

Cai o mundo... Chove lá fora...

E o frio é maior aqui dentro,

dentro de mim...

Na gaveta está o cobertor para o momento;

Envolvo-me em sua maciez, vou pra cama finalmente.

A noite escura e o acalanto do vento lançam-me

nas profundezas do sono.

Espalhados pelo quarto,

estão os seus pertences esquecidos.

Dentre eles, agora repousa,

o mais solitário e carente de todos:

eu...

Kamilla Fialho e a Essência Das Descobertas
Enviado por Kamilla Fialho e a Essência Das Descobertas em 30/07/2014
Código do texto: T4902725
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