A voz dos pertences
Sinto-me tão sozinha...
Milhões de coisas por fazer
pelo quarto, pela casa e pela vida.
E milhões de vontades me escapam;
Quero curtir a solidão do meu jeito;
Isolada num canto inútil da cidade.
Há quem acredite que isso me fará grande mal.
Sem qualquer tipo de manifestação, calada permaneço,
pois o meu silêncio confunde suas mentes cansadas.
Das coisas que são capazes de compreender,
não se pode acrescentar nada tão complexo.
Pois bem, eu prefiro assim...
Quero receber todo o impacto da saudade
com o peito aberto.
É uma ocasião onde não se difere o bom do ruim.
A dor da sua falta é terrível,
mas o que posso fazer se o meu coração
Quer por perto tudo aquilo que atrai a sua lembrança?
Suas marcas, seu cheiro, sua voz,
as leves sensações do gosto, do sabor do amor...
Nada disso o satisfaz completamente,
por mais que eu passe horas revivendo esse filme.
Caminho a procura do rumo das estrelas;
paro por um instante e respiro o ar cândido
quem vem do horizonte junto à tempestade.
Na volta para casa encontro-me num equilíbrio
entre luzes, paredes e delírios.
Cai o mundo... Chove lá fora...
E o frio é maior aqui dentro,
dentro de mim...
Na gaveta está o cobertor para o momento;
Envolvo-me em sua maciez, vou pra cama finalmente.
A noite escura e o acalanto do vento lançam-me
nas profundezas do sono.
Espalhados pelo quarto,
estão os seus pertences esquecidos.
Dentre eles, agora repousa,
o mais solitário e carente de todos:
eu...