181 – SORRIR PARA NÃO CHORAR...

Naquela tarde melancólica, uma gargalhada ecoou alma minha adentro afora, estanquei, paralisado fiquei, há tempos que não ouvia uma gargalhada com tamanha intensidade e magnitude, fato este que atraiu a minha atenção, desenrolou na minha mente a imagem de alguém extremamente feliz, alguém de bem com a vida, e toda esta felicidade estava sendo extravasada naquelas gargalhadas.

Desvencilhando das firulas que imaginava, procurei no envolto a alma emanante de toda aquela alegria, e para minha surpresa e decepção era apenas um bêbado que às voltas com a sua loucura dava sonoras gargalhadas...

Surpreendente...

Fascinante...

Ele sorria da sua própria desgraça, aquela gargalhada não tinha alegria ou a felicidade que imaginei, na verdade aquilo era um verdadeiro lamento, um gemido, era a dor da sua infelicidade disfarçada em sorrisos!

Que contraste!

Por um longo tempo fiquei a observar o bêbado, pude ver claramente que por entre as sonoras gargalhadas, ele disfarçadamente com a costa da mão tentava conter algumas lágrimas que teimavam em escorrer pela sua face, ainda assim continuava gargalhando, rodopiando, parecia estar com os olhos fechados, cabeça levantada rumo ao infinito, ele continuava a gargalhar e a rodopiar até que se enrouqueceu, se emudeceu, baixou a cabeça olhando para o chão como que se procurasse um apoio, como que se libertasse de uma epifania demoníaca, como que se acordasse de um sonho e confundisse as coisas, não sabendo se estava vivendo a realidade ou se vivia a realidade de um sonho, esse jato de luz de realidade o deixou perdido, boquiaberto, sonolento, olhou nos arredores, parece que sentia vergonha do seu comportamento, suas estrondosas gargalhadas em nada condiziam com a sua triste realidade, um tanto intimidado pelas circunstâncias, ajeitou a sua calça um tanto caída, apertou o cinto, barriga vazia, sentiu fome, olhou pros lados, escolheu um rumo, ou melhor, nem sei se escolheu um rumo, ou se foi o rumo que o escolheu, e ele partiu, deixando pairado no ar o eco de suas estrondosas gargalhadas...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 09/05/2014
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