O Pé de Roseira

Era um simples raminho colhido que plantado em um saquinho, transformou-se em uma muda de roseira. Transplantada em uma cova feita com cavadeira ficou ali no jardim, por meses e com regas regulares foi crescendo e soltando um broto que, atacado por formigas cortadeiras quase que morreu. Quis a sorte que na outra primavera, outro broto crescesse esplendido, audaz e maravilhoso como a natureza lhe prometeu. Na ponta desse broto um botão foi se formando e num piscar de olhos uma rosa se abriu por inteiro. Outros brotos foram nascendo e cada um ostentando o seu botão que ao passar dos dias iam desabrochando na luz dos olhos meus para a grandeza de Deus. Agradecido cismei... Que linda roseira vermelha que eu plantei! Dali saíram rosas diretamente ao altar da padroeira, levadas pelas mãos da minha irmã arrumadeira da igreja devotada a Nossa Senhora Aparecida. No dia do aniversário de um poeta insignificante, um bolo, uma garrafa de refrigerante e na mesa um vaso com muitas rosas vermelhas... Minha mãe gostava muito de admirar essa flor encanto, um dia ao nosso espanto, minha irmã Adige se foi para junto de sua santa protetora, isso eu sei, porque ela trilhava o caminho da verdade e da vida. Mas que pena! Quanta dor. Minha mãe ficou com a cruz da perda e eu também. De quando em quando, uma rosa lá no cemitério era levada e regada com o nosso pranto sem fim. A roseira foi crescendo, o tempo passando apressadamente, por fora e por dentro de nossas vidas, enquanto as rosas continuavam a perfumar a existência de lembranças que hoje me atormentam e foi nesse passar de tempo que minha mãe ousadamente, serenamente apanhou uma dessas rosas e se foi para todo o sempre. Ainda chorei olhando para o pé de roseira. Era consolador o perfume exalado ao negrume desabado sobre mim e por dentro da casa que era nossa. O negro manto da saudade que não se rasga, nem apodrece com murmúrios de infortúnios continuados tomou forma de nuvem e a chuva desabou, parece até que os sinos da Matriz se calaram. Onde, por quê as rosas me foram tão subitamente levadas do meu jardim? Maria, minha irmã mais nova resolveu inovar de tão verdadeira, para minha surpresa, foi sorrateira fugindo de mim para ir morar no céu, habitar o paraíso celestial não de um, mas de milhões de pés de roseiras. Se eu tivesse o endereço desse amor, no qual adormeço, certamente três rosas vermelhas cá da terra eu mandaria aos três amores que me foram flores colhidas do jardim da minha vida. Quero ouvir os sinos tocarem, os anjos entoarem a hora da Ave-maria, bem que podia... São seis horas da tarde, acho que mereço o crédito Divino da consolação e com uma rosa na mão ao Senhor Jesus ofereço este poema em oblação ao Pai Eterno que perdoa os meus pecados do dia-a-dia, pois ainda por incrível que pareça há um botão de rosa no meu pé de roseira; e, um desejo tão grande, mais tão grande nasceu em mim, de beijar o céu e ser feliz!

Valdir Merege Rodrigues

Pinhalão - Paraná

Valdir Merege
Enviado por Valdir Merege em 09/04/2014
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