Diante da Cachoeira

Eu não posso ficar assim parado, olhando as coisas ao meu redor. Minhas mãos estão atadas pela sua falta de compreensão. Já não existo mais para ninguém, não sei quem sou, sem a luz do seu olhar, sem seu sorriso eu choro e sinto um mundo de águas levando tudo o que me pertencia. Fez-se uma cascata, quase uma catarata, a cachoeira, e, lá no alto em meios das pedras, lugar íngreme, a palmeira esguia que exibe seu cacho de coquinhos dourados aos gaturamos famintos, ainda, teima por estar ali à espera da brisa daquela tarde de verão que não volta mais. Sinto-me espremido por dentre as rochas que circundam o lugar denominado Salto Cassiano. Águas que rolam rio abaixo se misturam ao lamento das horas que desfalecem, consomem o dia que desmaia junto das cores do entardecer. A samambaia embalada pelo vento, até então, dá seu último aceno ao dia mortiço que termina. Que falta de ar!

- Vou-me embora daqui, deixo que a solicitude perpasse o silêncio das horas... Só há um objetivo ao meu único afã. Vencer o tempo!

- Mas de que forma... Se por vezes sinto-me perdido em mim mesmo, tal qual um navio a deriva em alto mar e em meio a uma tempestade de pensamentos incompreensíveis? Ora, bons e instigantes à descoberta de novas aventuras trazendo turbilhões de venturas desmedidas e descabidas para o meio em que vivo. Risos soltos e sem nexo se perdem pelo ar. Ora, sórdidos e inescrupulosos anseios de vadiagem e sexo se perdendo pelo ermo do lugar. Lágrima quente de um ser vivente que tem a ousadia de suplicar a Deus, proteção à natureza benfazeja, que me dá o prazer imenso, êxtase intenso para esperar um outro dia chegar.

Sei que tenho minha própria filosofia de vida, donde medram sonhos que não se medem pelo tamanho da imaginação e da beleza, mas pelo volume da razão e da certeza que, como estas águas que rolam, hão de chegar ao oceano levando o choro desta tarde imbuída em encantos imaginários colhidos da amplidão do meu infinito. Há de chegar este lamento triste que as águas da cachoeira murmuram e que me inspiram a escrever à deusa das águas. Há de chegar ao Rio das Cinzas, há de chegar ao Rio Paranapanema, há de chegar ao Rio Paraná, há de chegar ao Mar Del Plata e ao Oceano Atlântico estas águas levando minhas mágoas aos pés de Iemanjá.

O céu se tingiu de vermelho e o lago se fez um verdadeiro mar prateado!

- Tenho que ir, pois já anoiteceu, escureceu e no firmamento já brilham as primeiras estrelas em saudação à noite que de mansinho se aproxima. Acelerou-me o coração!

Acho que a deusa das águas naquela tarde enxugou o meu pranto e sorriu para mim... Sorriu sim, eu senti isso tudo, indo num majestoso séquito de tons e sons, lentamente acompanhando a brisa daquela tarde de verão que não volta nunca mais!

Valdir Merege Rodrigues

Pinhalão - Paraná

Valdir Merege
Enviado por Valdir Merege em 03/04/2014
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