SOU PIÁ

Ao sair, uma brisa acaricia o rosto recém barbeado, o frescor do ar dá o clima, acima, andorinhas em revoada seguem em bando, um céu ainda azul com brilho de sol, mas, ao longe, nuvens anunciam que pode haver chuva, assim termina o verão em meu vale, minha linda Curitiba, de costumeiro céu londrino, onde o azul é quase cinza, se prepara após recordes e marcas históricas para se despedir do calor, aguardando um outono típico, com garoa todo dia, entre espasmos derradeiros de sol esfalecido em meio às nuvens, vento gélido em sopro forte, quatro estações no mesmo dia, Curitiba... florida em seus bosques e parques, de neblina alva sobre os lagos, e de sabiás em canto livre entre araucárias.
Curitiba, onde o vento sopra o verão pra longe, junto com as andorinhas que buscarão o calor em outro lugar, no sul é assim, o vento frio chega antes, tem livre acesso e porta aberta, se em Porto Alegre estivesse, como noiva esperaria ansioso por maio, e a beira do Guaíba em companhia de um quente mate e do assovio frio do minuano, o prenuncio do veranico, ou, quem sabe na encantada ilha de Florianópolis, onde o frio é mais ameno, as galegas mais galegas em suas praias mais bonitas, aproveitaria eu o vento, e largar a mente a velejar.
Mas sou de Curitiba, que logo cedo me acolheu, capital dos paranaenses, capital referencia de um estado pujante e acolhedor, que dividido em seus extremos, perde-se em estrangeirismo regional, de gaúchos a paulistas, ou das além fronteiras, italianos e alemães, poloneses e japoneses, mas onde a terra é Paraná, onde a semente brota fácil ao alimento perpetuar e a todos que aqui chegaram alimentar, as andorinhas estão indo em busca de calor, mas eu fico, sou pinheiro e como Leminski daqui não saio, "pinheiro não se transplanta", aqui vivo, e em Curitiba ansioso espero o frio, e também a chuva que lava a alma e espalha a vida, pois, sou pinheiro, sou piá... e conheço bem o meu lugar.