Poesia

(Inspirado no “Palhaço” de Selton Mello)

Se algum dia me tomarem por poeta, se me apontarem o dedo, se me chegarem um: - Ei poeta? Se me cobrarem resposta: - Ei poeta, o que é poesia? Responderia, some-se toda a arte e verá que é música, que é dança, que é cinema e teatro, que é pintura e escultura. Sentirá e saberá que poesia é o verdadeiro Deus, o conjunto maior das coisas. De toda e qualquer coisa que só deixa de ser coisa, quando assume-se substantivo próprio, chama-se, Beleza. Então poesia é o universo de toda beleza e arte só é arte se diz beleza, até quando, diz a beleza que há na tristeza, no sofrimento e na dor. A poesia é a síntese de tudo. É o grande poder da palavra, que num primeiro momento pode até destruir, mas que por fim cumpre o seu objetivo, cura... A poesia é o fundo das coisas, o fundo da panela dourando o alho e a cebola, adiantando um amargo que vai buscar equilíbrio encontrando o doce, o cítrico e o picante. É o fundo dos homens, das mulheres, o fundo das crianças. O fundo dos cães, dos gatos, dos ratos, das baratas e dos pernilongos. Porque até os cães, os gatos os ratos, as baratas e os pernilongos procuram dizer palavra, cantar palavra, pintar palavra, esculpir palavra. Todo ser encontra uma forma de dizer independente da forma que se é. Tudo é arte em movimento. Tudo é a palavra gritando. Tudo é a palavra em silêncio. Tudo é palavra, ela não se cala. Quantos poemas nas telas?... Quantos poemas nos pés e sapatilhas da bailarina?... Quem inventou isso de música instrumental? Isso não existe! Nunca existiu cinema mudo... Que poema lindo e questionador na reflexão do “Pensador”... Quem disse que está sentado e estático se podemos “ouvir” o calor nos seus pensamentos e temos a certeza de que vai se levantar e sair correndo a qualquer momento, saltando buscando o mar, que vai saldar o sol e a lua e declarar o amor que tem... Se vestir de palhaço assumindo o picadeiro e dando o ar da graça, fazendo rir, enquanto em segredo seu coração chora... – Ei poeta, o que é poesia? – Poesia é a palavra que salta de tudo e de todos e diz, mesmo quando não diga, palavra.