CINCO MOTIVOS...

CINCO MOTIVOS...

Paro na frente do espelho nu, quase cinquenta anos aparência de muito menos; minha tatuagem azul se destaca em meu corpo branco, acho que estou bem. Tenho que entrar numa guerra, eu preciso de um motivo para lutar. Hitler queria exterminar os judeus por um motivo econômico e não racial, ele tinha um motivo, este motivo foi o suficiente para gerar o holocausto, quase o extermínio de uma raça. Tem quem acha que Hitler teve trauma de infância, esse alguém é ingênuo. Pilatos lavou as mãos por motivos de não se envolver, tinha motivos, Duque de Caxias dizimou crianças e mulheres apenas para ser herói e a ignorância do povo brasileiro o aceita como herói, eu tenho vergonha de ter um filho da puta desses como herói de uma nação de acomodados, mas houve motivos para o que ocorreu. Mulheres foram para a fogueira em nome de Jesus que pregava o amor ao próximo, tem os seus motivos, tudo na vida tem os seus motivos... Como entrar numa guerra sem um motivo?

Estou nu perante o espelho, penso nos motivos que me levou a lutar e se lutarei novamente... Na primeira vez eu amava alguém, todos falavam que a pessoa não prestava, mas eu a amava. Todos falavam que eu era usado, mas eu a amava... Acho que amei duas pessoas em minha vida, aceitei-as com suas perfeições e imperfeições; brigava pelos seus erros, mas as amavas. Na ultima guerra por amar, mesmo me sentindo um guerreiro solitário tinha por quem lutar, tinha que sobreviver para continuar a ama-la, para fazê feliz, para ser o apoio, para ser macho alfa da matilha. Sou herói, sou forte, sou guerreiro quando tenho a quem cuidar, quando tenho a quem amar, eu fui criado para ser cuidador, ser provedor, ser guardião... Tenho que gerar felicidade e acima de tudo dar a outra face e perdoar.

Hoje nu perante o espelho tento descobrir um motivo para lutar, a pessoa que amei já não amo mais... Estou só a deriva.

Já não tenho mais ninguém, vejo apenas destroços de quem sonhou e teve os sonhos destruídos, e o tempo passa cada dia passa e tudo fortalece para que eu não queira a tornar a amar, como se o coração tivesse sido arrancado de meu peito e enterrado numa cova rasa para que os chacais filhos de Anúbis o desenterre e o coma no luar.

Família? Quando precisa dela não me dava apoio, alias sou alienígena numa família cheia de tabus católicos e moralista de dois séculos atrás, onde o espancamento de uma criança sem motivo era aplacado com oração?!

Aplacado com oração como se oração tirasse à dor física, a dor da humilhação do bulling, a solidão da dislexia e da disfônia, a perda da infância atrás de um maldito balcão, serviço infantil em esquema de escravidão, então família não é um motivo.

Trabalho, somos melhores que ninguém, somos apenas esforço, apenas amo, amo imensamente o que faço, sou minha profissão, realizo-me em minha profissão e por isso tento ajudar a todos com ela, mesmo sendo taxado de idiota por muitos, sou realizado nela?

Não, gasto demais com ajudas e continuarei a ajudar, não explorarei funcionários, não roubarei clientes em sua dor e assim sendo jamais terei minha meta profissional cumprida, mas deitarei minha cabeça no meu travesseiro e sei que fiz o melhor de mim, quando deitar a cabeça no meu descanso derradeiro sei que deite com a consciência profissional tranquila, sou idiota aos olhos de muito, mas sou honesto. Sou passageiro, como tudo é passageiro, como os humanos não merecem quem dedica e sim quem ilude, pois quem ilude agrada.

Meus filhos queridos estarão bem encaminhados, cada qual com o seu destino, antes eu partir do que eles. Amo-os, pois eles são meus companheiros, não me abandonaram não me decepcionaram, mas tenho lares melhores do que eu posso oferecer.

Lutar por mim? Por quê? Não vejo cinco motivos que valha a pena. Não aprendi a me amar, desta vez se eu tiver que entrar na luta, eu entrarei de armas embainhadas, com sorriso no rosto, com a caipirinha de vodca na mão e o pedido de clemência para apenas não sofrer.

Consequências, eu avalio todas afinal sou analista acima do emotivo, só não quero ter dor.

André Zanarella 06-12-2013

André Zanarella
Enviado por André Zanarella em 08/12/2013
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