Ainda que brilhe o amanhã

Antes que a noite caia

Prometo o que não posso cumprir

Finjo saber da verdade

Para teus olhos encobrir

À luz do candelabro forço o olhar

Enxergo teu sorriso embaçado

Leio para ti textos em branco

Minto sobre o caminho a ser pisado

No passar dos ponteiros o sono te ganha

Encobrindo aos poucos tua ansiedade

Percebo como é fácil ludibriar-te

Apenas com a sombra da minha maldade

Na ambição escondida na tua estirpe

Compreendi a modéstia do meu intuito

Abater este animal soberbo

Uma bala de festim já é muito

O que tu sabes?

Quando aprendeu?

O que tu escondes?

De qual fonte embebeu?

Quando me torno a pensar na tua origem

Me satisfaço com a dúvida que tu embuça

Pelo simples fato da discórdia

Que no teu peito pulsa

Faça-me o favor de se liquidar antes do amanhecer

Devolva as flores para teu jardim

E se contente com o pouco que tu representa

Quando chegar perto do fim

Antes que brilhe o amanhã

Quero ouvir teu suplício para respirar

Almejo ver teu pranto baldado

Sentir constância na decisão a se tomar

Guilhotina para os que perderam a cabeça

Afogamento para os que nunca respiraram

Para os asquerosos, estricnina basta

Aos indiferentes, uma gruta os selam

A noite ainda não se findou

Aos que se perguntam sobre o mote

Mando flores fúnebres rotas

Para os esfomeados, dou meu pote

Mais do que a vontade de acontecer

Existe a angústia do possuir

Taipa gélida e afilada há de crescer

Para telhas grotescas resistir

Ainda que brilhe o amanhã

Poderá sentir a brisa da alvorada

Sentir-se um naco de palha ao vento

Sendo um rebento singular sem morada

Leonardo Pitanga
Enviado por Leonardo Pitanga em 02/12/2013
Reeditado em 16/12/2018
Código do texto: T4595991
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