Ainda que brilhe o amanhã
Antes que a noite caia
Prometo o que não posso cumprir
Finjo saber da verdade
Para teus olhos encobrir
À luz do candelabro forço o olhar
Enxergo teu sorriso embaçado
Leio para ti textos em branco
Minto sobre o caminho a ser pisado
No passar dos ponteiros o sono te ganha
Encobrindo aos poucos tua ansiedade
Percebo como é fácil ludibriar-te
Apenas com a sombra da minha maldade
Na ambição escondida na tua estirpe
Compreendi a modéstia do meu intuito
Abater este animal soberbo
Uma bala de festim já é muito
O que tu sabes?
Quando aprendeu?
O que tu escondes?
De qual fonte embebeu?
Quando me torno a pensar na tua origem
Me satisfaço com a dúvida que tu embuça
Pelo simples fato da discórdia
Que no teu peito pulsa
Faça-me o favor de se liquidar antes do amanhecer
Devolva as flores para teu jardim
E se contente com o pouco que tu representa
Quando chegar perto do fim
Antes que brilhe o amanhã
Quero ouvir teu suplício para respirar
Almejo ver teu pranto baldado
Sentir constância na decisão a se tomar
Guilhotina para os que perderam a cabeça
Afogamento para os que nunca respiraram
Para os asquerosos, estricnina basta
Aos indiferentes, uma gruta os selam
A noite ainda não se findou
Aos que se perguntam sobre o mote
Mando flores fúnebres rotas
Para os esfomeados, dou meu pote
Mais do que a vontade de acontecer
Existe a angústia do possuir
Taipa gélida e afilada há de crescer
Para telhas grotescas resistir
Ainda que brilhe o amanhã
Poderá sentir a brisa da alvorada
Sentir-se um naco de palha ao vento
Sendo um rebento singular sem morada