NEM MEIO VERSO SEQUER!

Hoje, meu verso já desconfia de todas as correntes das convicções.

Quero dizer que, onde existe uma certeza uníssona das vozes, minha poesia logo se inquieta com a possibilidade quase sempre irrefutável das inverdades invisíveis, aquelas que se acovardam frente a tantas vendagens não reconhecidas pelo olhos da matéria.

Tenho medo.

Tenho medo de quaisquer ideologias vazias que a despeito do tempo pregam a plenitude de soluções ainda não vividas.

E pelos interstícios que escapam ao meu entendimento, pelos poros da poesia suada e ressequida, aciono meu olhar ao horizonte perdido na tentativa de resgatar resquícios de valores que valham a dor da pena que poeta.

Em ato de oração, se algum dia meu verso se perder no pensamento hermético das convicções inúteis, pela ação malfeitora das palavras que hipnotizam a razão em plena agonia, que seja meu pensamento de imediato transmutado para a rima verdadeira, aquela cuja versejação liberta a oculta notoriedade algemada; aonde possa a poesia instantaneamente reagir com a ânsia de vida rimada a cheio, como numa alquimia metafísica, a revelar o tudo que mata sob os aplausos da inconsciência.

Que minha pena nunca sucumba ao versejar, de meio verso sequer, sob a hipnose das entranhas imundas das malfadadas existências.