No moinho e vida real

Engraçado como alguns contos de nossos renomados autores nos trazem uma analise da nossa própria vida.

“No moinho”, de Eça de Queiroz, é possível ver o quanto deste conto reflete a vida real das pessoas. O despertar de Dona Maria da Piedade por um beijo mágico dado por seu cunhado Adrião, parece numa primeira análise, coisa de conto de fadas, mas na realidade se visto com olhos mais perceptivos veremos que esse beijo muito tem de realístico. O beijo, no conto, representa um portal que leva a alma para outra dimensão onde tudo é possível. E foi exatamente o que aconteceu com Maria da Piedade, ela foi transportada através do beijo de Adrião para um estado de espírito sublime, onde finalmente poderia se sentir viva e ter prazer.

O autor usa da ficção para demonstrar a tênue linha que divide sombra e claridade, dormência e vivacidade; e é nisso que se baseia o conto, nessa transformação de um estado para o outro. A figura de Dona Maria da Piedade sendo retratada no principio como alguém pura e imaculada, vem a contrastar com o final, quando ela se transforma no oposto, uma mulher adultera e despreocupada com o cuidar dos filhos e marido doentes.

Essa grande transformação se dá também em nós – não que iremos nos tornar adúlteros. Na verdade existe alguma coisa dentro de nós que lembra aquela Dona Maria da Piedade, que vive sem prazer, devotada a somente uma missão, a de cuidar de alguém que depende de nós.

A obrigação nos tira o prazer da liberdade. Muitos vivem sem prazer, esquecendo-se que existe um estado de espírito sublime e exorbitante o qual nos faz ver as cores da alegria e sentir o amor como nunca antes.

Não tento aqui fazer uma apologia da irresponsabilidade, mas sim dizer que é importante não nos deixarmos tomar pela sombra. Temos que aprender a plantar novas sementes de vivacidade no coração. Para Maria da Piedade o "gatilho" que lhe fez acordar de seu infindável sono de infelicidade e insatisfação, foi o beijo de Adrião; para nós o gatilho podem ser várias coisas, uma lembrança dos tempos felizes, uma chuva de verão, um beijo de um filho, ou até mesmo a comum frase “eu te amo”.

Suane Cruz
Enviado por Suane Cruz em 30/08/2013
Código do texto: T4459754
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