Que seja

Que seja



Que seja sempre sol, horizonte azul, sem calor exaustivo, que as nuvens apareçam a título de breve descanso e o frio tenso uma vaga lembrança. Que caminhar se pareça como um planar, ameno, fortuito, alegre sem espalhafato, desligado com velado rumo, e tudo à volta da minha bolha biológica seja agradável como sorvete, decerto, e tudo vasto como o céu, que não haja vento, só brisa, vento às vezes, com hora marcada, só para espalhar sementes.

Que sejam muitas sementes, pois afinal pulso no firme propósito de sobreviver, e afinal harmonizo, com o fim de orientar cada semente, cada uma delas, na compreensão de que nem todas germinarão. E nisso não há tristeza, só o simples desejo de realizar invenções.

Que digam que fui nomeado bispo em 27 de agosto, apresentado à aprovação da Santa Sé em 7 de setembro, preconizado arcebispo em 2 de outubro, (mas depois voltaram atrás), confirmado então pelo governo por ato em 30 de novembro (bispo, que seja), sagrado nesta capital em 8 de dezembro, empossado por procurador um pouco depois e que fiz solene entrada no mesmo mês, proferindo simplesmente: Eu os amo, mas devo seguir o meu próprio caminho.

Que seja com o com o objetivo de dedicar a fim criar. Nem que seja mais uma semente, ou uma variedade delas.

Que seja uma configuração completamente única, assim formando um conjunto nunca visto antes, nem aqui, nem em qualquer outro lugar, e que ao cabo do cronômetro esteja escrito na lápide: aqui jaz fulano, que se foi em honrada pobreza.

Que seja o encontro de uma aparentemente interminável correspondência de aspectos.

Na lápide também estará escrito (que seja): nunca foi bispo e o que quer que tenha sido, virou semente.


(Imagem: Bom Jesus do Monte, Braga)

 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 08/08/2013
Reeditado em 12/05/2021
Código do texto: T4424502
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