Classe

Das aspirações burguesas nasce esse rebento

Eles, com um laço de arame liso tentam enredar

Para escalonar diferenças e suprimir desejos

Se faz assim nossa conduta fúnebre

Os cantos desse quarto todos já pisaram

A disposição dos objetos muda pouco

Ao adormecer, o sonâmbulo atesta se tudo continua ali

Mas se acomete ao acordar, seus sonhos desarranjaram o protótipo

Proletário ou camponês

Entregue-se para a armadura

Ou espere tua vez no xadrez

Atreva-se nesta aventura

Siga seus passos, segundo o juízo

Se não, dança conforme os estouros

Faz-se não proletarizado, popular

O Poder anda em questão

Muda teu ato, teu grito

Flâmula que abre luminosa

Mapa que se dobra no rito

Na conquista, uma sobra

Maçã podre na tropa

Ao controle, ao pueril

Tapa os olhos, já vem a força

Do poder que nos faz vil

Esqueça dos mares de noventa

Como os vermes no covil

Faz tua merenda, minta com pena

Como hiena, menospreze tua senda

Teu mote se cria

Novo, bruto, juvenil

Limbo delgado, porém lacônico

Este fruto é tardio

A justiça preconiza o que é neutro

Balança precisa que descamba

O lado, já sabemos

A operação, já subjugamos

Da preguiça à empáfia

Dos embasados aos fulanos

Os gritos para os que não escutam

A voz para teu pranto

Envergue, não mude

Mata tua sede com sal

Já que tua boca seca

E a fonte corre entre tuas mãos

O esforço de ser costumeiro

Coteja nossa fiel inspiração

Farejamos rastro de carniça

Âmago finado no manancial

Esfola minha derme

Mas não meu brado

Cala-me com argumentos

E não me aponte o lado

Leonardo Pitanga
Enviado por Leonardo Pitanga em 22/07/2013
Reeditado em 29/03/2020
Código do texto: T4398353
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