Desespero

Se me deres ao menos a esperança velada,

Terei um sentido para descorar na tristeza,

Minhas pálpebras, na lamúria malfadada,

Dos meus cantos na infâmia indelicadeza

Contudo, Deus será a testemunha viva,

Do pendor da minha carne apodrecida,

No madeiro que o meu peito corado criva,

Deposito o sacramento de uma vida...

Não me perguntes, se vivo eu estarei,

Pois me pesa o desespero do existir insano,

E esta chuva é o pranto que chorei,

A esperar-te por todos esses meses do ano,

Acaso voltarás? Em meus braços de ternura,

Com teus lábios me levaria ao céu?

Contudo, jamais aquela época de grata fartura,

Retornarás na colheita deste fel...

E mentistes. Dizendo-me que me amava,

E teu corpo junto do meu estremecia,

No ondular do amor que enfim dourava,

Nossos espíritos em uma jovial fantasia!

Cruel! Foi retirar do peito o coração,

Que batia na cadência de uma sã harmonia,

E deste ele, a uma cigana da ilusão,

Transtornando meu viver em vil letargia!

E na plenitude de um desespero carnal,

Volvi estes olhos malditos em tua beleza,

E morreste no teu seio. O viver essencial,

Evocado em uma fantasmagórica incerteza!

Morri! Aos teus pés, junto da cova aberta,

Nas noites que eu vivia como um coveiro,

Clamando em versos de um falso poeta,

Teu nome a este universo amplo e inteiro.

Vês? Este crânio? Outro algum morto gênio,

Suspirou um verso junto de seu anjo do amor,

No entanto morto! Neste virgem milênio,

Hoje ele sepulta junto da cova- a pequena flor,

E se eu te visse. Na estrada da minha perdição

Daria a ti, um suspiro de momentânea felicidade,

Na companhia de uma póstuma sideração,

Coroaria a minha breve e insana mocidade.

Neste meu réquiem, sabeis do destino sou amigo,

E teu viver é o gérmen da iniqüidade,

Morreste? Vinde na doença, ao inferno comigo.

Em um canto sinistro de insanidade!

Partirei, pois breve será na terra a estadia,

Daquele que amou e não soube amar,

Afogando-me em um oceano de agonia!

Por vós em lágrimas irei me suicidar!...