Canto dos malditos

Parte-I

Por um momento!Um momento qualquer,

Queria beijar-te o peito celestial,

Sentir em meus lábios teu hálito de mulher,

E saciar essa minha sede carnal.

Ao menos sinta meu desejo sequioso,

De ver-te em uma volúpia constante,

E furtivo fechar os olhos em um gozo,

No prazer de ser o teu lívido amante!

Lembra-te que sou um simples menino,

Devotado na cadência de meu afã,

Mas o meu espírito é um eterno libertino

Pois junto ao teu teus seios sou D. Juan!

Junto ao meu leito ouço sussurros de prazer,

Quando embriago meu corpo em melodia,

Tenho no lupanar o meu deleite de viver,

Quando nos olhos queima a vã fantasia!

Meu Deu!s E as notas que vibram na viola,

São os cantos de um sarraceno infeliz,

Que no corpo de uma libertina espanhola,

Amou a pureza da virgem meretriz!

Foi loucura meu Deus- Amar o róseo seio,

Que palpita no frenesi de uma paixão,

E em meus lábios de um dantesco enleio,

Senti corar-me as entranhas do coração!

Não me importa, se essas minhas mãos dolentes,

Um dia na ventura de um ardor romântico,

Desfolharam as virgens lânguidas e inocentes,

No desejo de um fervoroso pudor satânico.

O que me resta Deus?Rio de ti e da morte,

Dos círios que ardem em lamuriosos funerais,

Pois nesta vida desregrada a breve sorte,

É embriagar a alma nos meus fetiches carnais,

Maldito seja! O amante das noites seculares,

O ébrio que embevece o espírito em maligno rancor,

Sou! Aquele que gasto nas orgias lupanares,

As últimas notas melancólicas no delírio de amor!

Não me culpes! Se na ilusão eu tive a fatalidade

Ao tocar-te o corpo- As mão arderem em brasas,

Contigo nesta volúpia- Perdi a jovem virgindade,

Como o pássaro que renasceu com as novas asas!

Entre tantas impuras- dividi o leito nauseabundo,

Junto das garrafas vazias- Evaporou-se o vinho;

E eu dormia. Era a imagem do poeta o vagabundo,

Que cantava o amor platônico ébrio e sozinho!

Um brinde! As minhas faces coradas na palidez,

Ao panteão dos deuses da glória sem euforia,

Perdoe-me anjo! Por volver-te na embriaguez

Meu moribundo sussurro de festiva litania!...

Quantas!Foram tantas que aqui me amaram,

Sob o clarão límpido de uma lívida lua,

E por mim!Os derradeiros prantos derramaram,

Sob a nudez de uma pele morena e nua!

Donzelas!Eis aqui o teu ideal de amante,

A ave que voa em direção do ardente sol,

Sou aquele que com a música apaixonante,

Canta as doces melodias do nobre rouxinol!...

Abram as janelas!Quero ao menos respirar,

O bafejo sibilante de uma refrescante aragem,

Deixa-me no frescor da morte me apaixonar

Pela visão da tua rósea e translúcida miragem!

Não vês?Que a cada bafejo eu ainda respiro?

Arquejando nos pulmões o odor da impureza?

Mãe natureza! Porque me fizeste como vampiro?

A caçar nas fúnebres planícies a minha presa?

São elas!Pobres camponesas de vidas ludibriadas,

De faces úmidas no leve e imperfeito rubor,

Caem aos meus pés! Por fim todas tão apaixonadas

Com a fronte suando na febre do vil amor!...

Desgraçados!Serão nesta terra a gerações futuras,

Das párias que se alimentarem destes ventres,

Sonharão pelos séculos estarem nas sepulturas

E no ladrar dos cães noturnos- Rancarão os dentes

E se a ventura da minha vida foi apenas ilusão,

Semeei nos campos de centeio a terrível praga,

De levar ao peito murcho um sofrido coração,

Que no abismo da morte o existir me traga!

E eu que jurei aos pés da cruz uma vida cristã,

De orações e uma vida sagrada no matrimônio,

Deleitei-me no tálamo aos braços do sujo Satã,

A união cadavérica com o amaldiçoado demônio

opoetakurita
Enviado por opoetakurita em 11/02/2012
Código do texto: T3493741
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