aquele vazio fecundo

aquele vazio fecundo que precede um grande amor... dá para entender? uma epifania de sutileza que nos escapa à razão e só é sentida nos subúrbios da percepção deixando um gosto de dèja-vu, ainda que tais lembranças estejam levemente fora do alcance, pouco além, sonho recém-esquecido. estar-se enamorado, e ainda assim não haver exatamente a quem enamorar-se... um devasso saberia o alvo de sua concupiscência; um não-sei-o-quê que precede toda vida, um estar em-si, oceano amniótico, latente, preexistente, onipotente e não-manifesto. falam através de mim mil primaveras, tomam-me, ignorando as mil corrupções que participam em minha carne, fazendo-me novo novamente e suavemente impõem sua tirania, re-sensibilizam, reinventam uma alma cansada, uma carne queimada por disparos demais, por sangue demais e imperativas convocam-me a uma nova roda, negando o descanso, convocando ao labor inesgotável de reinventar-me, de reencontrar-me à minha própria porta, pedindo guarida, cumplicidade: vem, vamos reinventar-te! vai ser bom! os cadernos de mentir se recusam a aceitar as tintas de minhas próprias verdades, seladas entre os dentes da agonia de não encontrar quem os leia... quem por eles se interesse. é mau negócio sermos demasiadamente humanos em tempos de bestas.