PARA QUEM QUISER LER...

Eu não quero escrever sobre flores, amores, decepções, encontros, traições, malícias, solidões, depressão, medo, coragem, falsidade. Eu não quero escrever sobre religiões, Deus, mistério, família, desencontros, beijo, abraço, amizade, inimigos, política, música.

Eu quero escrever sobre a vida.

Eu quero saber onde fica a vida quando todas as nossas aspirações e esperanças caem do cavalo, digo, eu quero saber da vida quando ela olha para o abismo e o abismo olha para ela.

Eu tenho uma taça de vinho em minha mão, tenho o vinho entrando em meu corpo, admiro-o, contemplo-o. Eu sou o vinho, a minha vida é um vinho. Muitos não o admiram, muitos o ignoram, mas ele está ali, solitário, na adega empoeirada, com uma vida esquecida, mas pronto para proporcionar alguns momentos de prazer.

Dizem que o vinho tem alma, eu sei que tem... eu tenho a alma do vinho! É uma aura simples, escondida, quase que imperceptível, é um líquido azedo para os mortais, mas para quem o encontra, enamora-o ele possui complexidade, paixão, agudeza, toque, sensação. Quem me sabe, quem me compreende sabe da minha agudeza e acidez, sabe da minha substância, sabe da minha inspiração.

Eu tenho toques bruscos, como quem encosta num rochedo inca, como quem vê o Stonehenge, mas eu sou o encantamento desse petrificação mítica, eu sou a brutalidade da brisa que os corta. Eu sou o corte preciso da muralha que se estende pelas montanhas chinesas.

Eu quero falar da minha vida para quem quer ouvir a sonata dos mendigos, dos mochileiros, dos desamparados... Minha vida importa para quem quer saber do muro ao lado, do seu quintal devastado.

Sobe-me à boca a ânsia do Amor Total, mas o anti-ácido do desprezo freia, arrefece essa explosão constrita de Liberdade. Eu quero falar da minha vida, para que todos tenham vontade e coragem de entenderem como são os nossos dias...

Olhem o que nos resta. Vejam se, realmente, estamos vivendo aquilo que planejamos nos nossos melhores dias, nos nossos melhores sonhos... vejam se a vida que eu canto aqui, identifica com a que vocês estão vivendo.

Sim, eu sou um frustrado, mas entendam frustração como aquilo que você não conseguiu alcançar, aquilo que você ainda busca, sabe que pode, mas não consegue, ainda. A minha vida vive nesse nicho de frustração e é esse mundo que eu quero para mim, pois não me conformo com o que possuo; não me contendo com o que tenho; não me regozijo com as minhas convicções e objetivos.

Vamos, todos aqueles que se sentem frustrados, como eu, continuem na frustração de uma vida que pode ser mais, mesmo que ela nunca saia da estagnação de um porvir que se acabará esse ano.

Eu quero falar da minha vida para que todos me vejam não por espelhos, retrovisores, candelabros, prismas... Eu quero falar da minha vida, por que ninguém consegue segurar o vômito, eu falo de mim, por que a regurgitação me consome na danação dos demônios.

Sou um descarado, cínico, pernóstico. Por quê me sinto assim? Sou todos esses adjetivos pelo fato de me expor sem pedir licença à censura dos medíocres, não estou pedindo permissão para falar de mim ao chefe do Baile mascarado... Simplesmente estou me deflorando, estuprando-me, expondo-me ao monturo das mentiras e das esperanças falidas para um público que, se não dão a mínima, ao menos conseguirão chegar ao final do texto... e eu, ao fim da vida.

Simples assim, minha vida não é diferente à de ninguém que realmente se conheça, se aborreça e se envaideça com as dores do mundo... aquelas que citei no início do texto. Eu tenho tudo aquilo dentro de mim, mas, sinceramente, ninguém dá a mínima para o que realmente importa: “TODOS SÓ QUEREM O DINHEIRO DA PRÓXIMA FATURA VENCENDO (VENCIDA) PARA QUE A VIDA DO OUTRO SEJA MENOS IMPORTANTE DO QUE A SUA!”

Agmar Raimundo
Enviado por Agmar Raimundo em 04/01/2012
Reeditado em 11/01/2017
Código do texto: T3422391
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