OH, MORTE!

Morte, oh morte!

Por que destilas o fel

Sobre o mel das vidas?

Morte, oh morte!

Por que separas vidas

Com a guilhotina

Alterando a rotina do céu?

Morte, oh morte!

Passas já de mim,

Mas como assim me livrar

Se fazes parte de mim?

Morte, oh morte!

Por que me buscas

Quando quero ficar,

Por que ficas quando quero buscar?

Morte, oh morte!

Por que em mim te enlaças

Quando com as taças

Quero a vida brindar?

Morte, oh morte!

Por que enquanto não me abraças

Abraças os meus

Levando-os aos teus breus?

Morte, oh morte!

Por que de tão sozinha

Assim sozinha também me deixas?

Morte, oh morte!

Não sejas assim tão cruel

Levando-nos até o céu

Numa dor insuportável.

Morte, oh morte!

Como podes ser divina

Se trazes dor, sombra, malefício?

Morte, oh morte!

Não te quero bem

Como bem me queres,

Mas ao nosso encontro terreno

Subamos ao céu num bailado sereno.