A luta inglória de uma mãe para salvar o filho

De um mundo com paz, mais humano e mais justo

tentamos em vão fazer parte. Prosseguimos a jogar

e, mesmo sendo o jogo demorado e tendo alto custo

com vontade e persistência nós haveremos de ganhar.

Com vontade e persistência nós haveremos de ganhar

tirando das ruas as crianças e as colocando na escola

perdendo o medo da “gente” que foi deixada lá fora,

nas vielas , tendo como única opção roubar e/ou matar.

Roubar e matar são verbos cada vez mais conjugados.

Quando lá da rua vem à zoada – é tiro de espingarda -

já fala o menino para seus avós que vivem assustados.

- É tiro de doze, argumenta outro jovem já na calçada.

Já na calçada, sem temer a morte, o jovem acelera,

quer ver se o corpo estendido é de alguém da galera.

Deitado de olhos abertos, ele já não ver o céu azulado

e, não ouve o grito desesperado - Meu filho foi baleado!

Meu filho foi baleado! Quantos gritos mais se ouvirão

de mães ao ver se alastrando naquele solo barrento,

o sangue corrente das suas veias, vida do seu coração.

E que sussurra - Filho perdoa. Eu perdi!... Lutei tanto...

Lutei tanto! E perdi meu filho seu moço para este mundo

que nunca me dá espaço, que jamais escuta o que digo.

Que só quer me fazer de vilã, que nunca me viu percorrendo

becos e botecos, ruelas da favela a procura do quase bandido.

Do quase bandido que se tornou meu anjinho, meu menino.

Eu tive tanto medo. Procurei na comunidade e na Santa Igreja

alguém que me ajudasse a mudar do meu filho o seu destino

Teve jeito não, Seu Doutor, o tráfico de drogas venceu a peleja.

Venceu a peleja e levou junto o meu grande e belo sonho

que tive quando lá na maternidade falaram é “cabra macho”

Imediatamente, comigo pensei – Ele vai ser um “Seu doutor”.

Não, não seria Ronaldo, nem Dinho. Não seria nenhum jogador.

Não seria nenhum jogador. Seria um: Ricardo José dos Santos.

Santos como seu avô. Ricardo foi emprestado do pediatra doutor.

Que nunca soube do fato acontecido. Por lá nascia por dia, tantos,

que ele nem tempo tinha de ver dos pequenos: raça, sexo ou cor.

Raça, sexo ou cor. Não. Não era preto, vermelho, amarelo ou mulato.

Era branco tal qual um príncipe do reino do castelo, dito encantado.

Que importância tem cor? Se for pobre nunca será um leão só um rato.

E no final é vermelho o sangue que todos perde quando é o alvejado!

Arlete Araújo
Enviado por Arlete Araújo em 06/02/2011
Reeditado em 28/04/2012
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