TUDO A DIZER DO CARIRI

Que dizer de tudo que vimos e ouvimos por aqui? Que dizer do Cariri?

Que dizer dos olhares e manifestações dessa gente acolhedora, mística e sincrética? Que torna o profano sagrado e o sagrado profano? Que dizeres podem e devem ser ditos de modo a não profanar este território sagrado da cultura popular?

Que linguagens podem expressar a latitude e longitude do lugar poético, da geografia humana e bela, do saber popular feito ciência, dos sabores e aromas das vivências que se misturam e se nutrem da complementariedade simbólica e concreta que o verde Vale e a Chapada traduzem?

Que fazer para dizer o inédito viável, que configure atos-limite como sínteses criativas do existir de um povo?

O Cariri bem expressa a magnitude e a densidade cultural, cheia de singularidades na diversidade do universo popular. O Cariri é terreiro, aldeia e território vivo. O Cariri é um mundo, vasto e profundo que cabe no coração da gente. Que cabe na poesia e na cenopoética dos seus viventes.

Quantos Patativas cantam por aqui? E quantos cantam e encantam mundo afora?

Que dizer em versos e palavras, vivências e canções, para gerar definições precisas e preciosas das raízes mais profundas deste lugar?

Dizer apenas, apenas dizer, que te amamos tanto, tanto (meu e nosso) Cariri. Quanto mais o tempo passa, há décadas longe de ti, eis a nossa Terra-Mãe, nosso planeta singular, nossa fonte inesgotável de versos feitos ao luar.

E sob a sombra de um Pequizeiro, o nosso canto se mistura com o canto do Sabiá, chega um Galo de Campina misturando o seu cantar, a Corduniz se aproxima com sons de arrepiar, logo um Canário se achega, beleza em pluma e (em) cantos. São cantos, versos, baladas, sinfonia da Chapada que na Santa fé se escuta e na Baixa do Maracujá.

Três violas e três violeiros se achegam ao Pequizeiro, Stenio Lima (Os Filhos da Chapada), João do Crato e Abdoral junto aos pássaros soltam a voz. São os ritmos da Chapada, moda de improvisar, tudo que é ave nativa participa do concerto e nos ninhos os filhotes batem as asas do cantar. Logo se achega um sanfoneiro, da familia dos Carneiros, um cantador da saudade, um filho do Juazeiro, com sua voz sem igual... É o Fábio Carneirinho que reluz em sinfonia expandindo a poesia por todo o Vale mais além...

Esta cultura latente nunca vai se acabar. Enquanto existir floresta e enquanto houver esperança, patativas surgirão dos assarés deste lugar. E feitos pássaros cantarão pra sua gente. E mesmo que faltem sementes não deixarão de cantar. Cessarão todas as queimadas, cultura fértil em cada canto, sem perder a tradição, cultivada em versos e rimas, chapada abaixo e acima, a passarada e a gente a cantar solenemente na festa da paz e do pão.

As flores do Pequizeiro anunciam safra boa, os grupos e movimentos animados e animando, as lideranças do povo educadas e educando, o povo das comunidades aprendendo e ensinando, todos os trabalhadores preservando e cuidando.

Culturas de amor e vida

Em cada verso uma lida

Cada lida uma lição

Cada lição nova prática

Regenerando a terra

Sem faltar a produção

Partilhando o pão do Ter

Pelo Saber que se faz

Em verso

Em prosa

E em canção

Por uma cultura de paz!