A POESIA EM PROSA

DECLARAÇÃO DE AMOR À POESIA

Prezada Poesia,

Abstrações mil!!!

Há muito que vivia latente e sempre quis exprimir do meu âmago anímico a essência que se referisse única e exclusivamente à abstração, isto é, pela metáfora ou figuração. Hoje, certeiramente, posso contar com você minha Poesia minha, e dizer, sem constrangimento e sem receio, de que partilha poeticamente do meu existir.

Apego-me à metáfora para nomear redundantemente Poesia em Poesia. Sim, teu nome. O teu nome é Poesia como sempre foi poesia e que, a partir de agora, passará a ser muito mais... porque a tratarei poeticamente. Assim como Drummond tratava sua poesia de Lyo ou Lio; Umberto Eco a tratou de Rosa, em O Nome Da...; eu, a comparo a Ema Bovary, mas a prefiro Poesia que assim me satisfaz mais dignamente à abstração que sempre ansiei. Outros (poetas, sonhadores) a terão puramente por inspiração; eu, especialmente, a terei – além da inspiração e da transpiração – por abstração, esta que difere respectivamente de Drummond e de João Cabral, porque o teu nome transcende a poesia de todas as Estéticas por ser Poesia em poesia de corrente lirismo – a minha real abstração.

O meu eu em ti (Poesia) como a minha realização pessoal é o meu emimesmamento demasiado com os meus eus de mim, os quais diferem dos heterônimos pessoano, porque são autodenominações, auto-homônimos dos eus exclusivamente sociais que o teatro da vida exige-me que seja representado, isto é, como um mirífico refúgio à sobrevivência. Entre todos os eus, é a vida Emeceana (Poeta-Poesia) a que me faz estar mais e mais prisioneiro de ti minha Poesia minha para que eu me sinta livre de veras.

O meu eu lírico é shakespeareano, é trágico como o teatro em Sófocles; já os meus eus estão mais para a lenda de Narciso em que Oscar Wilde, sensivelmente, transferiu e atribuiu até para o lago – literalmente lágrimas – o narcisismo, este que não é menos demasiado do que a minha admiração por mim, pois não choro a morte de Narciso como o lago, mas tenho lamentado o meu próprio fenecer pela degradação do meu teatro. Aqui sim é que é tragédia – não a grega –, mas a tragédia universal, da qual ninguém está isento, marcada pelo crudelíssimo e inexorável tempo limitado pela vida, porém, eternizado com sabedoria no amor, na Poesia e na abstração que ora me vejo submerso.

Ser lírico é ser romântico tal qual estética de outrora que sempre esteve presente em mim a me fazer um eterno nefelibata por me abstrair demasiadamente com o teu nome Concreta(mente) na tríade Augusto-Décio-Haroldo e no Realismo machadiano quando te leio os olhos D’alma, tal qual os de Capitu em ressaca, e vejo fluir ao mesmo tempo a essência de fêmea-menina-mulher a me exprimir – ainda que timidamente – de teu âmago o que é de ti (Poesia em Poesia); o que é de teu ser, de tua alma e, acima de tudo, do teu nome: Poesia. O teu nome, o qual nunca me cansarei de clamar e de cantar... Poesia, POESIA, PO-E-SI-A.

Do teu sempre Poeta.