CACHORRO-POEMA
Meu cachorro-poema é um sabujo
Fareja até de olhos fechados
Hoje o pobre coitado
Saiu pra caçar resfriado
Encomendei-lhe um poema de amor
Trouxe-me um pacote com bolor
Não quis nem olhar, enojada
Ele latiu, torceu o rabo
Quase mordeu minha mão
Abri o pacote a contragosto
E no meio do bolor tinha uma canção
Escrita num papel velho com desenhos de coração
Reconheci aquela letrinha tão minha
De uns trinta e poucos anos atrás...
Falava de joaninhas, borboletas e fadinhas
E pedia a felicidade sem fim que só o amor é capaz
Cão sabujo muito esperto...
Cavou nas entrelinhas e revolveu os meus ais
E eu que andava tão descrente dessas coisas de amor
Dei um sorriso e cavei fundo dentro do peito
Pra quem sabe descobrir uma emoção
Qualquer que seja, só uma, mesmo que perdida no tempo
Mesmo que só uma fagulha pra acender meu coração