Sobre Cartas eConfissões...

 
Já escrevi cartas de amizade. Cheias de corações, flores, escrita com canetas coloridas, decoradas com a inocência de quem têm sonhos e afeto transbordando pelos poros, mas era tímida demais e [ainda] não havia aprendido a falar de amor...
 
Já escrevi cartas para Deus e fiquei esperando que Ele as encontrasse dentro de meus livros e deixasse um bilhetinho dizendo que perdoava meus pecados e entendia meus medos...
 
Já escrevi cartas que se derramaram dos desejos, anseios, poemas do corpo, cartas respingadas de tristeza e solidão para pessoas que sem querer se tornaram retalhos de mim; letras que nunca se juntaram para formar palavras de amor e foram esquecidas em algum armário de minha alma...
 
Já escrevi cartas ridículas, extremamente dramáticas, não só de amor, mas de amizade, de gratidão, de tristeza, cartas com cargas emocionais tão amplas, tão irracionais, tão desconexas que se tornaram cartas para minhas gavetas...
 
Já escrevi uma carta de adeus para meu amor, nela todas as instruções sobre como ele deveria criar nosso filho se eu morresse de parto, uma carta que nunca precisou ser lida...
 
Já escrevi cartas de despedidas para meus filhos explicando por que estava partindo, mas nunca fiz as malas e as cartas não foram entregues...
 
Já escrevi palavras que morreram no papel desbotado, desgastado pelo tempo sem nunca ter sido lido; apenas pensamentos que não penetraram no perigoso mundo da mente alheia, ficaram paradas, não atingiram o outro, nunca deixaram de ser minhas. Não foram distorcidas....

 
Esquecidas no papel não feriram ninguém e me aliviaram. Cartas íntimas demais para serem compartilhadas. Descargas psicólogas. Cartas para aqueles que rasgaram minha alma. Feriram meu Eu...
 
Nas cartas secretas, rasgadas, escondidas e/ou guardadas em caixas, gavetas, lá estamos nós, completamente nus no papel vestido de palavras nascidas na alma que anseia por colo, mas esconde-se na confortável solidão das palavras.
 
Na letra trêmula, nos rabiscos, na escolha dos vocábulos, nos borrões deixados pelo choro incontido nos revelamos, expomos nossos medos, nossos desejos mais secretos...
 
No papel não precisamos temer a reação do outro. Ele é nosso confidente. Não nos censura. É o outro que nos ouve sem interferir, sem emitir opiniões...
 
Quanta coisa eu já escrevi, mas não mandei!!!
 



Este texto faz parte do Exercício Criativo Escrevi, mas Não Mandei...
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Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 14/06/2010
Reeditado em 25/10/2013
Código do texto: T2318944
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