FANTASMINHAS

Hoje pela manhã, remexi meu guarda- roupa, achei uma velha caixa de sapatos e ao abri-la, libertei alguns

fantasminhas do passado. Fantasminhas do bem, pois não me assustam. Estão em forma de bilhetes, chaveirinhos, fotos e até mesmo na forma de uma pétala de flor já bem sequinha dentro de

um envelope.

Olho, volto no tempo e repasso a história de cada coisa.

Pego uma foto já meia amarelada e la está você de cabelos pretos e cacheados, vestindo blusa branca e saia azul-marinho que era o uniforme do Liceu. Você detestava esse uniforme e eu adorava vê-la nele.

Lembrei das nossas conversas na hora do lanche entre refrigerantes e salgadinhos trocados entre nós enquanto criticávamos a professora de francês.

Fecho os olhos e uma saudade morna me invade. Saudade daquele domingo à tarde que fomos ao cinema. O filme me foge, pois não prestei atenção, mas lembro que ficamos de mãos dadas e sua cabeça encostada em meu ombro. Éramos duas crianças arriscando um namorico sem compromisso. Pôxa, quanta saudade !

O tempo veio como um rio em tormenta e arrastou com ele nossa infância, nossos sonhos, nossas gargalhadas juntos. Separou-nos.

O tempo é poderoso. Constrói e destrói.

O tempo é artista pois já desbotou a foto e pintou meus cabelos de branco. Penso se ele desmanchou seus cachos.

Em que terras você andará?

Será que vez ou outra você abre o guarda-roupa, pega aquela caixinha escondida e deixa os fantasminhas da saudade passearem um pouco?

Será que lembra de mim ?

Fecho a caixinha, guardo os fantasminhas,

embrulho a saudade junto com a pétala seca., e peço que as águas do rio voltem a ficar calmas. Quem sabe no remanso de uma curva eu te encontre sorrindo.

19/08/05

pctrindade
Enviado por pctrindade em 20/10/2009
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