PASSA O TEMPO, UNTA E ASSA A VIDA
Passa tempo de grandes unhas... ardido
Leva consigo a doce prenhês inútil da vida
Repassa os calores sentidos e os converta em amor
Assim, sorvo-os com colher de sopa, ao pé do pote melado.
Ninguém é tanto assim, tempo esgoto!
Tenho comigo a sua inesgotabilidade efêmera
Não rezo, contudo não nego seu clã vindouro
São ameixas a desmoronar os sonhos de menino.
Só não invento tais brumas [incolores]
As minhas são densas como o ar na profundidade
Perigalhos vão juntando coisinhas, às valas
Depois, afogam a todos, impiedosamente.
Passa vilão dos ventos, estro descontrolado das estrelas!
Passa mais perto daquele que o vê distante
Trace verso miúdo, mas não o cante
Limite-se a silvar profundamente, sem amarras.
Sabe, tempo descolorido e ausente...
Teus mestres foram os mesmos que plantaram o trigo
Serviste de escada e de amurada, por vezes
Ora, então, por que cisma comigo?
Se é assaz bom para pintar os cabelos da jaca
Deveria ser gelo a alocar olhares insanos
Leva consigo as fontes incólumes [caso ainda as tenha]
Pois, essa Terra dorida haverá de lhe esquecer, em breve.
Ouça o que eu digo!