CARTA ao CAMBISTA do COLISEU

Eis que a Primavera chegou mudada, é possível enxergar o anjo zombeteiro

despejando lava pelos ventos, macacos com serpentes nos dedos e facas nos olhos

dilaceram aos que se iludem no sofrimento do sangue alheio

Quem inventou a roda?

Se dependesse do Menestrel que apodrece pomares pela voz verminosa

ainda seriamos répteis espertalhões

O coringa se diz polêmico, na verdade

é um órfão da graça, excluído pelos palhaços, como dizê-lo dialético

se a contradição é a pobreza da síntese?

Assim como o Céu é a Síntese

entre o Sonho e a Miséria, o dragão é a Vergonha do Anjo

Curupaco é o conselheiro do rei, veja aonde chegamos,

brilhante e sórdida é a decadência, o abismo da alma se equilibra

numa estrela negra, sombrio o fogo que enrola o anjo deste abismo

A rua é péssima professora,

o que é possível aprender

com viciados e pedófilos?

2

Galo tétrico

a pé decifro a fé

prantomímico

3

Aonde o funk impera o anjo anarkysta vende balas mequetráficas

e por mais que eu fale em mudar o mundo ele só acredita

nas cinzas

Seus cabelos são asas de uma águia que só voa quando ele sonha

e mesmo que no crime não exista lugar para o delírio

a verdade nunca foi Bem-Vinda pelo gênero humano

Aonde meninas

manuseiam o prazer de homens desesperados, a Fera é o fruto

do encontro entre o Futuro Perdido e a Vinda Tenebrosa

e o medo impera nos edifícios e nos vales profundos, e o medo impera

nas praias uivantes e nas estradas que só existem para que os anjos

malencarados estendam o sol nascente, e o medo impera aonde

bêbados se perdem pelos becos, e o medo impera aonde o sangue é derramado

com tamanha cólera que a cidade vira uma confraria de esqueletos vivos

condenados a perambular com o alfabeto perdido de Babel nas mãos,

e o medo impera, porque houve traição aonde levamos

paixão e aventura e o jardim ficou macabro pelas formigas nascidas da lava

e do hálito das víboras