Marulho (a Cântico Negro)

Cheguei ao mundo e não finquei meus pés

Nem em minha terra ou em terra alguma

Havendo algo querendo que eu suma

Quem, pois, ora pra Deus, por tais marés?

O mais que eu faço vale tudo ou nada

E desse nada me vejo com tudo

Navego por um mar sem fim, contudo

Minh'alma o ama e por ele nada

Vejo-me na mais doce loucura:

Salgada água do mar em que me encontro

Uma só lágrima de Deus em pranto

Ou de seus navegantes sepultura?

Não ouço mais os cânticos de outrora

O vento afina o tom de seu marulho

E só por causa dele é que me orgulho

De talvez não querer mais ir embora

Não vou nem por aqui nem por ali

Agora fico até o sol se por

E ele há de aguardar, quando eu me for

A guiar os navegantes por aqui

RNetto
Enviado por RNetto em 11/09/2023
Reeditado em 11/09/2023
Código do texto: T7883060
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