Sentimento Oceânico

Eu vou oceaneando pela imensidão.

Contemplo a mansão azul das profundezas,

E vejo, em quadros progressivos,

O ritmo da vida e da evolução.

Perco-me na grandeza desse mar imenso,

Às vezes manso, às vezes agressivo,

Em constante processo de fecundação.

Minhas escamas brilham ao sol do meio dia.

Brincando nas espumas, nas ondas,

Sou tomada por estranha euforia.

Ressuscito minhas formas ancestrais,

Escondo-me nas cavernas de corais,

E descubro, entre navios afundados

E rochas seculares,

Admiráveis e belas catedrais.

Já não sou forma, nem substância,

Faço parte das notas musicais

Que evolam desse gigante líquido

Em seus contornos plurais.

No corpo de uma gaivota branca

Parto para o deslumbramento das alturas,

Fico sozinha entre o céu e o mar,

E sobre o sorriso das nuvens,

E na espuma das ondas ponho-me a ondular.

Visito, sem medo,

As profundidades escuras, abismais,

E bebo, com volúpia, seus segredos.

Afinal, no oceano eu nasci,

E no início dos tempos, como gota ou silêncio,

Como sal, germe ou estrela,

Eu, inteira, já lhe pertenci.