SÚPLICA DE ALMAS
 
Entre meus lábios, as palavras puras
São confissões de escassas ternuras
Algo supremo que não tem fim
 
Pois em cada verso triste que componho
Sobrevive o resquício de algum sonho
Maculando-me a face de carmim
 
Palavras furtivas, borboletas ao vento
Fugidias expressões de momento
Que em vão, tenta as asas, alçar
 
São pássaros que se despencam do ninho
E ao ver o tempo em fugaz redemoinho
Perdem-se no vento, doidos a dançar
 
Almas benfazejas, eternas...
Almas ilusórias, externas
Que habitam nos reinos, enfim...
 
Almas que dormem em silentes degredos
Deixai desaguar entre meus dedos
Mares de tristezas que trago em mim
 
Que a intenção suspensa de um sorriso
Converteu todo meu verso em abismo
Onde contemplo, perdida, as escarpas
 
E quando anoitece, tenho medo...
E o dedo da noite, em segredo,
Desliza, ferino, nas harpas
 
Eu oculto em dimensões gigantescas
De proporções cavernosas, dantescas
Tudo o que em mim não se cala
 
Tornando-se algo impreciso, talvez
Bocas e beijos chorando em viuvez
Num canto esquecido da sala
 
Mas que o tempo tornou distante
Num vendaval de poesia inconstante
Onde um berço de poeira se embala.
 
Quisera ofertar na solidão de um templário
Um passado que fosse, talvez doce, hilário
E tudo o que um dia não pude alcançar
 
Adentrar num templo secreto de medo
Calar na boca o inconfessável segredo
E nunca mais, nunca mais soluçar
 
Pois já dormem na poeira desses sonhos
Meus olhos que um dia foram tristonhos
Pra nunca mais, outra vez, acordar !