O VOO DAS MÚMIAS
Os homens-pássaros nasceram para voar
Deus deu-lhes a inteligência
Para que criassem as próprias asas
Para voar
Voar
Contudo
Ignoram e submetem-se ao jugo
Das crenças e religiões
E não voam
Não voam
Ignoram as asas /
As possibilidades /
Ignoram-se
Não pensam
E não voam
Não voam
O homem nasceu para ser livre
Para pensar
Para ser um pensador livre
Acima do livre pensar
Pensar por ser livre
Livre para pensar
Para voar
Voar
Pensar e voar
Voar e pensar
Voar
Acima de tudo e de todos
Sobre rochas, florestas, pântanos
Sobre montanhas,
Sobre nuvens,
Sobre as crenças e tradições
Pensar
Voar e pensar
Pensar e voar
Sobre as quimeras
Sobre as políticas
Sobre os enganos e desvios
Sobre contradições e engôdos
Sobre a impostura
Voar
Rumo ao próprio encontro
do humano com o divino
Com o divino-humano
Com o humano-divino
Com a Verdade
Com a Unidade
Com o Absoluto
Voar com a alma
Superar-se com o espírito
Como ser humano
E divino
Que somos
Em que pese a gaiola
Que nos aprisiona
Como se bárbaros
Fôssemos
E fossilizados
Talvez embalsamados
E putrefatos
Em que pese
O vento sopra
Ajudando-nos a retirar
os farrapos que nos
aprisionam
O vento sopra
facilitando levantar voo
Vamos voar?
Voar...
Ar
(Respirar?)
Armand de Saint Igarapery - abril 2015