O OUTRO LADO

Imensidades estranhas pairam sobre meu pensamento,
Desenhando infinitos apenas brancos ou apenas negros.
Meu pensamento voa perdido, distante no vácuo tão vazio,
Que não ouço nem de mim meu próprio canto triste.

As demais cores e sons se aprisionaram no planeta horrendo,
Em uma parte qualquer, esquecida do espaço-tempo,
Onde vivem estranhos seres, segundo seus próprios desígnios
Com máscaras de filhos do grande progenitor universal.

Quando o relógio dava meia-vida, morri uma morte estranha: incorpórea.
Meus olhos perderam a luz e meus ouvidos não mais ouviam a melodia.
Do cadáver andante, um cheiro pútrido é levado sem rumo certo pelo vento,
Enquanto os demais vermes se alimentam do amortalhado infame.

Melhor seria a morte da carne, do que essa morte que o tempo não cura.
A assassina, enquanto oculta seu semblante num sorriso largo,
Dissimula o amor, ou o desamor, e apenas assiste insensível
À cena, fingindo nada ouvir, nem ver das cinzas restantes do amante.

À beira da loucura, penso se tudo tivesse sido diferente,
E me lembro de um sorriso puro, deixado pelo caminho
E do amor prometido: impossível e transcendente,
Construído em grandes voos oníricos pelo sonhador.

Agora o preço do sonho é cobrado em dor que me dilacera.
Em meio à vaga chama e à descrença que emudecem o espírito,
As lágrimas persistem invisíveis, em choro de tristezas guardadas,
Enquanto de meu corpo, frio e inerte, banqueteam-se em êxtase.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 16/05/2012
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