SÓ E PÓ

Véspera de Rei

E eu longe de ser rei

Fazia-me, mais uma vez, anfitrião

De mim mesmo noutra extensão de mim.

Eu estava, incrivelmente, a me laurear

Porque ninguém mais consegue saber

O que o meu coração tanto deseja.

Mas, afinal, o que o meu coração deseja?

Ele deseja algo pequeno e simples:

Que a criança seja criança

Que o jovem seja jovem

Que adulto, adulto

Que o velho, velho e criança ao mesmo tempo.

E eu, que grasso o caminho da senilidade

Quero dá ênfase a essa sutil transmutação.

Pelo ofício atingi a minha velhice

A qual se confunde com a minha existência;

Pelo ofício fui promovido a ser estar

E permanecer - por opção minha - SÓ;

E pela minha existência estou destinado

A ser estar e permanecer - sem opção - PÓ.

Porque de SO para PÓ é só uma questão de tempo

E é por este que se promove e, também, se morre

Por isso, pó é tá sempre... Só.