São Francisco de Assis

Amora pode ser o feminino de amor?

Uma frutinha silvestre e azeda que só.

Cida não se sentia mulher.

Armando, cantando feito uma juriti,

não se sentia muito confortável,

naquele corpo másculo de homem

e o anjo, que supostamente errou na entrega,

tentava se justificar:

O santo,

tema dessa tentativa de poema,

também,

dadas as regras do sistema,

por muito tempo,

não se considerou reconhecido.

Sempre foi muito simples

e lhe era exigido pelo menos um mínimo

de ambição.

Não sabia dizer não,

a não ser às injustiças,

enquanto as noviças suspiravam,

se mantinha, Chico, fiel a sua fé.

Nunca foi fácil ser diferente,

apesar das diferenças

serem uma constante.

Constantinopla também já foi capital.

Francisco, que não nasceu Francisco,

foi um homem que virou santo,

que também virou rio,

batizou mosteiros, inspirou obreiros,

deu nome a ruas e avenidas.

Deu a vida por bichos e bichas,

sem distinguir os sexos

e sem questionar se bicha

é realmente o feminino de bicho.

Santo de fato,

se lixa para as besteiras humanas.

Se fulana não se sente mulher,

pode também, sim, ser santa.

Maria Madalena não se tornou?

Se Amadeu, deu ou não deu,

não foi por falta de caridade

e, se de verdade,

não puder ser santo,

por onde é que anda o arrependimento?

Nem todo Francisco é santo,

assim como nem todo santo é Francisco.

Corisco também foi quase um santo,

por testemunhar e sobreviver,

às atrocidades de Lampião.

Santo não significa só sermão,

só solidão ou só sofrimento.

E do Firmamento,

São Francisco olha,

ora e chora,

por todos os descontentes,

considerados inconvenientes,

dadas as diferenças,

entre o amor e a amora.

Vamos, Francisco, batizar um outro rio,

que não deixaremos poluir.