Fábula da pantera, da donzela e da gazela

Creio que a bela pantera

nunca tenha tido um orgasmo,

um espasmo de feminilidade,

na selva que era sua cidade,

naquela idade e época também,

distante,

em meados do século passado.

Pantera cor de rosa, a Rosa rubra,

Rosângela, Elizângela ou Maria.

Não sentiam desejos,

apenas entravam no cio.

Não havia prazer,

tão somente a obrigação,

pela procriação

e pela manutenção da espécie.

Vida chata a das panteras

e a de outras menininhas.

Algumas minhas amiguinhas,

pois sou bicho também.

Pobres donzelas,

assim como as gazelas

e essas em situação bem pior,

porque são só presas.

Não é surpresa,

a evolução das panteras,

pois já podem sentir,

gritar, sussurrar ou urrar,

de prazer

e já podem também até ver.

Não precisa mais ser no escuro

ou por detrás do muro,

ocultas pela frustração,

de acordo com a emoção que sentirem

ou não.

Estão bem mais soltas,

as panteras,

apesar de ter-se tornado perigoso,

o seu poder de sedução.

Nem todos respeitam

a beleza e graça das panteras

e ainda preferem tê-las em grades,

grandes,

do tamanho de um apartamento,

feito aquele passarinho,

bonitinho,

condenado a cantar só para um dono,

sem ter dono,

por isso que o ciúme e o abandono,

estão sempre de mãos dadas.

A pantera

já conquistou o direito ao prazer.

Já pode caçar fora dos limites,

mas ainda não se admite,

estarem sozinhas em qualquer lugar

e se esse lugar for num bar,

aí então, um tanto pior.

Mas, menos mal,

porque na igreja já podem.

Explodem os átomos das panteras,

feras com instintos de fera,

podendo ser ferozes se quiserem

ou não,

de acordo com a situação.

E aonde é que a condição da pantera

difere da vida da mulher?

Você já pode se dar, por puro prazer?

‘Homem revoltado abate arara,

que mantinha em cativeiro,

só porque a coitadinha,

não parava de falar,

mas suas penas serviram,

pelo menos para enfeitar,

o cocar do desiquilibrado.’

Um motivo fútil, uma atitude inútil,

só porque a criaturinha queria voar.

A sexualidade e a liberdade,

jamais foram completamente admitidas

e nunca serão,

enquanto a paixão significar posse

e a opressão for o único trunfo à mão.

...e a pantera não cumpre as regras do leão.