É tudo muito abstrato

O acaso e o descaso.

Não foi o primeiro que colocou aquele bandido ali,

naquela esquina, tarde da noite,

para quem deveria estar dormindo,

se tivesse o que fazer no dia seguinte

e no mínimo se evitaria,

que as estatísticas crescessem.

Mais um ato de violência,

que poderia bem ter culminado em morte.

Não foi azar e nem foi sorte,

talvez tenha sido mais por influência do segundo

e por apenas frações de segundos,

a vítima não perdeu a vida, somente o celular,

porque a segurança o abandonou,

enquanto que o agressor, achando que saiu-se vencedor,

num trágico encontro de abandonados,

foram cada um para o seu lado,

com a mesma sensação de abandono.

É tudo muito relativo.

Naquele casal, onde o homem matou a mulher

e depois se suicidou,

não foi o amor o causador da tragédia.

Foi pela mais completa falta dele, por si e pelo próximo

ou próxima

e próximos estavam os filhos,

traumatizados,

pois jamais se esquecerão daquilo.

Não é por um mero acaso,

que somos sempre tratados com descaso

e isso vem desde os faraós,

aqueles que mandaram construir as pirâmides,

com labirintos, túneis e tumbas,

com o pretexto de ludibriarem a morte,

mas mandaram construir só para si.

O narcisismo é muito complicado.

A morte não é o fim.

Viver, sim, é o fim,

mas este fim não significa o final.

Temos no português várias saídas

e uma delas é a de banho

e então, nem sempre dizemos exatamente o que queremos dizer

e nem, infelizmente, fazemos também,

exatamente, o que deveríamos fazer.

Mas o poder não é fruto do acaso

e é o descaso quem faz o poder se corromper.

Até para praticarmos o mal

-e o mal é muito mal,

temos que saber a quem queremos atingir.

Já o lado bom de praticarmos o bem,

mesmo que achemos que foi por acaso,

é blindado contra as influências do descaso

e nesse caso, ele não entrará em sua casa,

porque o mal cumpre um norma,

que não é nada casual,

de não entrar se não for convidado.

Mas isso também não é por acaso

e é o descaso quem tenta nos confundir.