O ódio e o amor num espelho embaçado

Aquela lingerie provocante

que o marido não quis comprar.

A maneira despojada de vestir-se,

daquela que é independente. Auto suficiente.

Tudo é indecente.

Tudo é moda.

Tudo incomoda.

A prostituta, culta,

por falta de oportunidades no mercado formal.

Aquela que se casou, de maneira normal,

mas que não é prostituta,

mesmo tendo se casado só por garantia.

Almas gêmeas, pequenas,

descontentes, mas felizes,

cumprindo cada um com a sua obrigação.

Assim como seus pais.

Convenções e nada mais.

Nunca mais o sabor de um outro sorvete.

Um bom marido, aproveite.

Uma boa mulher, se deleite.

Só nunca se deite com o vizinho,

porque o amor é mesquinho

e adora nos confundir.

Júlia jura, punhal fura, sangue escorre

e por amor se mata, se morre,

mas se for por amor, valeu.

Não doeu. Não dói nada.

Eram apaixonados. Como explicar?

Eu vi e o que vi,

de repente era o avesso.

Menino travesso esse tal de amor.

Pensei que fosse um pássaro,

mas era um avião.

Quem diria que fulano fosse assim!

Ai de mim. Simples observador.

Ai do amor, que provoca tanta dor.

Se fosse o ódio, ninguém estranharia.

Um ou outro? Quem é quem?

E como sabe-lo?

Pelo cabelo, senhor, parecia uma mulher,

mas pela silhueta, por sua faceta,

eu não reconheci o ódio,

mas poderia jurar que era o amor.

É muito importante que o espelho esteja sempre limpo,

pois até os deuses do olimpo se confundiam

e até hoje nos confundem.