Fofoca de bairro pequeno
O coitadinho nunca imaginou
que depois de maduro, quase idoso,
casado, vacinado e calejado,
viveria uma grande paixão.
E ele sossegado no seu canto
e vem essa tal de paixão,
como numa implosão,
abalando as estruturas.
Que loucura!
Ela é casada, a danada,
mas o que é que tem isso demais
nos dias de hoje.
Mas pensam elas,
que o gato na janela é marrom.
Ele não tem tom
e não é tão mal assim
quanto parece.
Não demorou muito para perceber
que a conversa era sobre uma série de TV,
daquelas picantes que abordam a traição,
cuja tônica, como sempre,
é o desgaste entre os casais,
que criam os filhos sob as suas expectativas,
criando também suas próprias perspectivas,
mas crescem rápido demais,
assim como o rio corre ligeiro para o mar
e ao encontrar o mar as águas se misturam
e quase sempre vai-se a ternura
e os bobos em casa,
um olhando para a cara do outro.
Olhos fixos no jornal
e a mulher de olhos fixos na panela,
quando não está na janela,
pensando talvez no que não fez
ou no que possa ter feito de errado.
O convívio do mudo com o calado,
quando dançar de rostos colados,
ah, isso é coisa do passado.
Por isso o seriado sugere que os casais,
de quando em vez,
tirem férias conjugais.
Amigo leitor, colega escritor,
saibam que quem criou
essa maravilha chamada de metáfora,
o fez para que ela fosse usada
e eu a usei e continuo,
incondicionalmente não acreditando
no incondicional.
o fez para que ela fosse usada